Leituras diárias

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

 

“Pela madrugada um ventinho começou a entrar pelas frestas da parede e uma chuvinha criadeira, de semana, caiu lenta, monótona, sem um trovão ou corisco, embebendo o campo, escorrendo pelo sapé para o sangradouro que ia dar ao ribeirãozinho do lado.

Uma cuia de café, um bom cigarro e a prisão em casa por causa do mau tempo.

O gado aos milhares estava espalhado nos campos a perder de vista.”

(Trecho de A história de um campeiro)

 

“E, sobre o barro peganhento da estrada, em frente a cruz, via-se a caboclada soluçando ante a mulher, desvairada, agarrada ao corpo volumoso, de bruços, com o rosto roxo voltado para o lado... Ponciano estava morto. Um galho grosso, roído pelos corós, se desprendera da árvore morta, ao vendaval, golpeando de morte o caboclo valente.

E outra cruz foi plantada naquele ponto a que os caipiras chamam, com medo, As Cruiz do Mato-Dentro...

O tempo levantou... Saí para o terreiro. O luar, claro como os luares sertanejos, punha qualquer coisa de cera pálida, cor de defunto branco, acompanhando do alto a sinuosidade do rio Tietê.”

(Trecho de As Cruzes do Mato-Dentro)

 

Cornélio Pires (1884-1958), jornalista, escritor, folclorista, etnógrafo e importante empresário promotor da cultura caipira do interior de São Paulo em Quem conta um conto...

0 comments:

Postar um comentário