“Pela madrugada um ventinho
começou a entrar pelas frestas da parede e uma chuvinha criadeira, de semana,
caiu lenta, monótona, sem um trovão ou corisco, embebendo o campo, escorrendo
pelo sapé para o sangradouro que ia dar ao ribeirãozinho do lado.
Uma cuia de café, um bom cigarro
e a prisão em casa por causa do mau tempo.
O gado aos milhares estava
espalhado nos campos a perder de vista.”
(Trecho de A história de um campeiro)
“E, sobre o barro peganhento
da estrada, em frente a cruz, via-se a caboclada soluçando ante a mulher,
desvairada, agarrada ao corpo volumoso, de bruços, com o rosto roxo voltado
para o lado... Ponciano estava morto. Um galho grosso, roído pelos corós, se
desprendera da árvore morta, ao vendaval, golpeando de morte o caboclo valente.
E outra cruz foi plantada
naquele ponto a que os caipiras chamam, com medo, As Cruiz do Mato-Dentro...
O tempo levantou... Saí para
o terreiro. O luar, claro como os luares sertanejos, punha qualquer coisa de
cera pálida, cor de defunto branco, acompanhando do alto a sinuosidade do rio
Tietê.”
(Trecho de As Cruzes do Mato-Dentro)
Cornélio Pires (1884-1958), jornalista, escritor, folclorista, etnógrafo e importante empresário promotor da cultura caipira do interior de São Paulo em Quem conta um conto...


0 comments:
Postar um comentário