Enquanto a maioria dos olhares se dirige para a Amazônia – principalmente por força da pressão internacional – a destruição do Cerrado continua avançando, sem provocar grandes protestos. Apesar dos desmatamentos terem caído em 60% nos últimos sete anos, mais da metade do bioma já está descaracterizado. O Cerrado, com mais de dois milhões de quilômetros quadrados e estendendo-se do litoral do Maranhão até o norte do Paraná, possui uma das mais variadas biodiversidades do mundo. No entanto, continua sendo explorado de forma desordenada, demonstrando a incapacidade dos que estão exercendo atividades econômicas e dos que são responsáveis pelo controle ambiental da região. Muitas vezes não nos damos conta que os grandes impactos ambientais não são provocados somente pela premeditada desconsideração da lei, mas muito mais pela ignorância, incapacidade e o total despreparo dos agentes econômicos e de controle envolvidos.
A área já destruída do Cerrado é de 835 mil quilômetros quadrados, quase duas vezes e meia o território da Alemanha. Os Estados que mais vêm contribuindo com a destruição do bioma entre 2003 e 2009 foram: Mato Grosso (derrubando 11.000 quilômetros quadrados), Bahia (com 6.265 km² de desmatamento), Goiás (3.412km²), Tocantins (3.528 km²), Piauí (2.955 km²), Mato Grosso do Sul (3.181 km²), Minas Gerais (2.681 km²) e Maranhão (2.991 km²). As atividades econômicas que mais contribuíram para a derrubada da vegetação sem quaisquer critérios foram a pecuária e a agricultura. A forma de derrubada da mata ainda é o “correntão”: liga-se uma corrente grossa a dois tratores e arrasta-se pelo cerrado, derrubando tudo em seu caminho. Limpa a área é só juntar a madeira, queimar e vender o que sobra como carvão.
Será que o direito à propriedade autoriza a se fazer o que se quer com a terra? Se uma indústria não pode produzir como quer, sem levar em conta a legislação ambiental a fim de não prejudicar o entorno, por que o latifundiário pode tratar sua terra como quer, sem considerar as leis já existentes? Ambos, tanto a indústria como a fazenda, se mal gerenciados, irão poluir ou destruir o solo, os recursos hídricos, a atmosfera, a fauna e flora da região, prejudicando, em última instância a sociedade e o País. O argumento de gerar empregos, riquezas e tributos, não exime uma indústria de cumprir a lei ambiental. Por que, então, o pressuposto de que o agronegócio gera riquezas e empregos, eximiria a fazenda de cumprir a legislação ambiental ou utilizar técnicas modernas de lidar com o bioma no qual está inserida?
Sem dúvida temos no Brasil um problema histórico: nunca houve um reforma agrária; a posse da terra geralmente foi resultado da exclusão, apropriação violenta e garantia de privilégios. A terra sempre foi sinal de status social. Nos últimos cinquenta anos com a Revolução Verde, transformou-se em instrumento de produção, assim como as máquinas, sendo destinada a gerar lucro para seu proprietário. Quanto mais e maiores colheitas produzisse, tanto melhor. Quando se esgota, a terra é vendida a um preço menor, como qualquer instrumento de produção usado – um caminhão velho ou um torno ultrapassado – a outros que continuarão a explorá-la. Neste processo novas terras virgens são ocupadas (mas nem sempre compradas) e o processo de degradação do bioma continua.
(Imagens: fotografias de Mario Giacomelli)
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