A pouca importância que a imprensa mundial deu à reunião do Congresso Anual de Mudanças Climáticas da ONU, realizada em Doha, mostrou o quão pouco o tema está preocupando os governos e a sociedade civil. Por outro lado, aqueles que pensavam que a crise econômica mundial provocaria uma redução na emissão dos gases de efeito estufa (GEE), causadores das mudanças climáticas, estavam enganados. As emissões de GEE somam atualmente 50 gigatoneladas de equivalente de carbono (GtCO²), o que é um volume 20% maior do que em 2000 e 11% acima do que deve estar em 2020, se quisermos evitar que a temperatura média global não se eleve em 2º Celsius. Apesar da situação, os países não parecem estar interessados em fazer grandes cortes em suas emissões, já que isto envolveria investimentos que em época de crise não estão disponíveis.
O Brasil também é e será cada vez mais afetado pelo fenômeno das mudanças climáticas. As fortes chuvas e os deslizamentos ocorridos na região serrana do Rio de Janeiro em 2011 foram um prenúncio daquilo que nos espera no futuro, dependendo da região do país. A tendência, segundo os especialistas, é que o Sul e o Sudeste tenham chuvas cada vez mais intensas, enquanto que o Centro-Oeste e principalmente o Nordeste enfrentarão secas mais prolongadas. No médio e longo prazo, parte do Cerrado poderá se transformar em caatinga e áreas da floresta amazônica poderão se converter em cerrado.
Com estas mudanças, a atividade agrícola também será afetada. Culturas como o arroz, café, soja, milho e laranja, deverão ser deslocadas para outras regiões de clima mais favorável. A geração de energia, em grande parte baseada nos recursos hídricos, também será afetada – no momento cerca de 20% da energia elétrica do País é gerada por termelétricas a óleo, devido à queda do nível dos reservatórios.
Outro aspecto são os desastres naturais, como a seca do Nordeste, que já dura meses e o retorno dos desabamentos no estado do Rio de Janeiro, devido às fortes chuvas. O serviço de meteorologia prevê que o verão 2012-2013 será um dos mais quentes da história, com altas temperaturas e fortes chuvas. Para evitar grandes tragédias, o governo federal criou em 2011 o Centro Nacional de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden), cuja função é alertar sobre riscos de deslizamento de encostas com algumas horas de antecedência.
O Brasil, por sua extensão territorial, terá que lidar cada vez mais com as consequências das mudanças climáticas. Grandes metrópoles, áreas agrícolas e toda a infraestrutura serão afetadas. No entanto, ainda não estamos preparados para tais desafios. O pesquisador do núcleo de meio ambiente da Universidade Federal do Pará (UFPA), Cláudio Szlafszstein, especialista no tema, diz que no governo "há numerosas intenções e propostas, mas elas se destacam por serem isoladas, com escasso nível de implementação, e por serem orientadas para diminuir as emissões de gases-estufa, com pouca atenção para a adaptação dos impactos das mudanças climáticas".
O problema está aí, só não enxerga quem não quer. Se não começarmos a introduzir ações preventivas em todas as áreas, a população e a economia serão cada vez mais afetadas, gerando perdas de vidas e recursos. O processo poderia começar com os novos prefeitos eleitos, que devem adotar medidas concretas, visando proteger seus munícipes.
(Imagens: fotografias de Jovan Dezort)
(Imagens: fotografias de Jovan Dezort)
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