"...e cada um, tendo aceitado que a vida não é busca da verdade, que não existe ou nos será sempre inacessível, optará por passear de uma doutrina a outra, interminavelmente, como quem visita paragens distantes, saboreia receitas exóticas, mergulha em águas novas, deixando para trás o pathos da ignorância, seus malefícios, suas trevas ameaçadoras..." - Roger-Pol Droit - Se só me restasse uma hora de vida
O desmatamento no Brasil tem origens antigas. Populações
indígenas que aqui estavam estabelecidas antes da chegada dos europeus, já
praticavam a coivara para a formação de roças. Algumas tribos, como os
xavantes, usavam o fogo como tática de guerra, segundo relato do sertanista
Orlando Villas-Bôas. Mas, como a população indígena era diminuta e as queimadas
limitadas a pequenos territórios, a prática tinha pouco impacto ambiental.
A destruição das florestas brasileiras começou com o avanço
dos europeus sobre o ecossistema da Mata Atlântica, que originalmente se estendia
do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, avançando para o interior do país
e ocupando uma área de 1,3 milhões de km². A mata foi o local de extração do
primeiro produto de exportação do país, o pau-brasil; madeira usada à época para
tingir tecidos. Foi também na zona de influência da Mata Atlântica que se
estabeleceram as primeiras cidades brasileiras e onde ainda hoje vive cerca de
80% da população. Até a década de 1950, grande parte da atividade econômica do
Brasil – agricultura, mineração e a nascente indústria – estava concentrada em áreas
originalmente ocupadas pelo bioma. O mesmo vale para os ciclos econômicos
pré-industriais de nossa história; do pau-brasil, passando pela da
cana-de-açúcar e o ouro, até o ciclo do café.
À medida que se exaurem os recursos naturais da floresta
atlântica, através da atividade agrícola e do crescimento das cidades, se abrem
frentes de ocupação de territórios no interior. A industrialização, a
construção de Brasília, a expansão da malha rodoviária e o avanço da frente
agrícola rumo ao oeste, são os marcos do avanço da economia sobre áreas
inexploradas de Cerrado e da floresta amazônica. Nos anos do milagre econômico
(1968-1973), quando a economia crescia em média 10% ao ano, o setor agrícola apoiado
pelas pesquisas da Embrapa estabeleceu as bases do que hoje é o agronegócio; o
setor da economia que mais traz divisas para o país. No início dos anos 1970 o
governo militar termina a abertura da rodovia Transamazônica, estrada que mesmo
parcialmente pavimentada, percorria 4.223 quilômetros ,
ligando Cabedelo, na Paraíba, à Lábrea, cidade do extremo oeste do estado do
Amazonas. A estrada abre o vasto território da floresta amazônica a
agricultores, madeireiros, garimpeiros, caçadores e todo tipo de aventureiros
que vão tentar a sorte na região.
Assim, o ritmo de desmatamento da floresta amazônica foi
aumentando gradualmente ao longo dos anos, devido às atividades agrícolas e
pecuárias. Entre 1550 e 1970
a área desmatada não passava de 1% dos 4,2 milhões de
km² que o bioma ocupa em território brasileiro. Nos últimos 40 anos, no
entanto, segundo a ONG Greenpeace, 18% da Amazônia brasileira – 756 mil km² – foram
derrubados. Nos últimos dez anos o desmatamento vem gradualmente diminuindo,
caindo para 1.047 km² entre agosto de 2011 e julho de 2012. Em 2013 o desmate
voltou a crescer (2.007 km²) e continua aumentando em 2014. Apesar de existirem
metodologias diferentes para avaliar o ritmo de devastação da vegetação, vários
fatores indicam que esta vem aumentando.
O impacto do desmatamento de parte da Amazônia será bem
maior do que o da Mata Atlântica. Recursos hídricos, biodiversidade e clima
serão definitivamente afetados. Depois disso, não haverá mais outro território novo
a ocupar.
(Imagens: fotografias de Walker Evans)
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