"A religião não é um tipo primitivo de teorização científica, nem a ciência é um tipo superior de sistema de crenças. Assim como os racionalistas interpretaram mal os mitos, como se fossem protoversões de teorias científicas, cometeram o erro de acreditar que as teorias científicas podem ser literalmente verdadeiras. Ambos são sistemas de símbolos, metáforas para uma realidade que não pode ser expressa em termos literais." - John Gray - A busca pela imortalidade
Como se não bastasse parte do país enfrentar a maior falta
d’água nas últimas décadas, corre também o risco de enfrentar “cortes seletivos
de energia”. O aviso foi dado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
aos geradores e distribuidores de energia. A medida, segundo especialistas,
pode-se fazer necessária para manter os níveis dos reservatórios de água,
garantindo o fornecimento de energia principalmente para as grandes cidades nos
meses de janeiro e fevereiro, quando há um aumento da demanda por eletricidade.
A ocorrência de uma eventual economia forçada de energia não
é novidade para aqueles que atuam no setor elétrico. Esta coluna já havia
comentado o fato em janeiro deste ano, com o artigo “Calor aumenta a demanda
por eletricidade”. Assim, à medida que o nível dos reservatórios baixava, sem
que o volume de água fosse reposto pelas chuvas tão aguardadas, seria só uma
questão de tempo para que o governo fosse forçado a implantar medidas mais
duras de economia de eletricidade. Durante o período pré-eleitoral nada foi
feito para não atrapalhar a campanha de reeleição da presidente Dilma – assim
como o governo de São Paulo também procurou postergar ao máximo a discussão da
crise hídrica.
Até agora o governo não tomou nenhuma providência concreta, baseado
no fato de que, segundo a própria presidente, o país tem 20 mil megawatts de
reserva em energia térmica. No entanto diversas instituições e ONGs vêm
chamando a atenção sobre a necessidade de ser iniciar uma campanha para
economizar eletricidade, assim como já está sendo feito para a água. Claudio
Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, disse em declaração ao jornal
Folha de São Paulo que “Os reservatórios estão em nível inferior ao de 2013,
que já era crítico. Para evitar especulações, o governo deveria ter maior
clareza em suas ações.”
O fator mais importante deste dilema é o volume de chuvas
que São Pedro nos colocará à disposição entre novembro de 2014 e março de 2015,
tanto para o abastecimento de água quanto a geração de eletricidade. Dependendo
da quantidade de água que cair sobre a região Sudeste e Centro-Oeste, aumentará
ou diminuirá o risco de desabastecimento de energia e água nas regiões em 2015.
Ainda assim, há males que vem para o bem: não fosse a crise econômica e a baixa
produção industrial, o consumo de água e energia seria ainda maior, forçando o
governo a implantar medidas de racionamento imediatamente.
Prevenir é sempre a melhor política de segurança. Mesmo que
a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) ou o MME ainda não tenham
anunciado oficialmente a necessidade de economizar energia elétrica, o cidadão
já pode começar a fazer a sua parte. Existem diversos sites que contêm
sugestões sobre como reduzir o consumo de energia com a troca de lâmpadas,
cuidados com aparelhos elétricos e eletrônicos; medidas que poderão fazer uma
grande diferença na conta de luz ao final do mês.
Além disso, podemos cobrar de nossos deputados a votação de
leis que ajudem na implantação de políticas mais duras com relação à eficiência
energética. É incrível o volume de eletricidade perdida em equipamentos de uso
diário, que utilizam tecnologias ultrapassadas. O custo desta energia dissipada
é pago pelo consumidor. Já que o país precisa economizar energia, podemos
exigir que se fabriquem produtos mais modernos e eficientes.
(Imagens: fotografias de Marcel Gautherot)
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