Um ecossistema, assim como
outros sistemas dinâmicos, é considerados um sistema complexo. Uma eleição, a
economia de um país, o clima de certa região e o ecossistema de uma ilha, por
exemplo, são sistemas complexos, porque seus diferentes estados ao longo do
tempo decorrem de relações imprevisíveis entre suas partes constitutivas. Sistemas
complexos são compostos por vários aspectos que interagem entre si, formando
uma nova estrutura, que por sua vez construirá novas e mais complexas relações,
e assim por diante. Os sistemas complexos não são simplesmente a soma da
atuação de suas partes, como um relógio ou um motor; são muito mais complicados.
Não é por outra razão que para se estudar o desenvolvimento destes sistemas,
são necessários computadores de altíssima potência, processando bilhões de
informações por segundo.
Quando uma extensa área de
floresta ou de campo é destruída e substituída pela atividade agrícola ou
simplesmente degradada, a supressão do ecossistema original provocará diversas
consequências, numa cadeia de causa e efeito de resultados imprevisíveis, gerando
novos fatos agora ainda imperceptíveis. Geólogos podem antever mudanças na
constituição do solo, com o gradual desaparecimento de certos minerais que eram
liberados no solo pelas raízes de um tipo de planta, suprimida pelo
desmatamento. Hidrogeólogos poderão prever menor disponibilidade de água no
subsolo, já que esta era retida pelas raízes das milhares de árvores e arbustos
derrubados. Biólogos, além de observarem menor presença de insetos
polinizadores - besouros, abelhas, borboletas, vespas e moscas - identificarão um
solo mais pobre em microrganismos, menos fértil. Todos estes aspectos irão
interagir entre si e criarão um novo ambiente.
Este novo ambiente, se usado
para a agricultura, será submetido a soluções lineares e mecanicistas -
preparação do solo para o plantio, semeadura, adubação, irrigação, aplicação de
herbicidas e inseticidas. São intervenções que atacam apenas alguns pontos do
sistema de plantio, como suprir alimento e água e afastar eventuais
concorrentes e predadores; mas sem conseguir aprofundar a interação entre seus
elementos originais, como acontecia no ecossistema original. Um dos aspectos a
observar neste caso é que a vegetação original, que ocupava a área, era um
sistema com milhares, talvez milhões de anos de interação entre seus membros. A
cada mudança de condições - enchentes e secas prolongadas, períodos de frio ou
de calor mais intensos - este ecossistema teve condições de lentamente se
adaptar e voltar a entrar em equilíbrio, mesmo com o desaparecimento de uma ou
outra espécie, em função da mudança de condições.
A intervenção do homem, transformando
aquele complexo sistema ecológico em algo mais simples, destinado a produzir
uma, duas ou três espécies de vegetais - sorgo, milho e girassol -, suprimiu bactérias,
protozoários, fungos, animais e vegetais, que propiciavam um excelente
equilíbrio ao ecossistema original. Com diversidade de espécies menor, o
ecossistema agrícola torna-se mais vulnerável às pragas e ao desequilíbrio -
como um corpo com carência de certas vitaminas.
A demanda por alimentos no
mundo será cada vez maior. Assim, o maior desafio do setor agrícola será
desenvolver conhecimentos sistêmicos, a fim de aumentar a produção sem destruir
completamente os ecossistemas originais.
(Imagens: fotografias de German Lorca)
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