"Nietzsche marca, ainda, o fim de um período - otimista e antropocêntrico - para abrir a era da sabedoria trágica que assume a Vontade de potência como palavra final desta história. A besta e o homem são habitados pelo princípio que rege o universo. Freud não esquecerá a lição. Depois de Nietzsche, não se vê mais o homem como antes: ousa-se o traço lúcido tão caro aos moralistas franceses." - Michel Onfray - A sabedoria trágica - Sobre o bom uso de Nietzsche
O Brasil é o segundo
produtor mundial de carne bovina e o maior exportador deste tipo de alimento. O
rebanho bovino brasileiro é de cerca de 190 milhões de cabeças, ocupando
extensas áreas de pasto por todo o país, principalmente no Centro-Oeste e na
Amazônia. Até o ano de 2023 o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento projeta um crescimento anual de 2% para este setor. Para se ter
uma ideia do volume de carne e da quantidade de animais envolvidos, basta
mencionar que para uma produção de cerca de 8,7 milhões de toneladas de carne bovina em
2012, foram abatidas 31,1 milhões de cabeças.
O impacto ambiental desta
atividade é muito alto, quando se considera que apenas o rebanho mundial bovino
tem mais de um bilhão de cabeças, cuja maior parte vive em pastos abertos,
ocupando área considerável. Com isso, a atividade agropecuária é responsável
por 18% de todas as emissões de gases de efeito estufa (GEEs), ultrapassando as
emissões veiculares. O metano, principal gás produzido por esta atividade é emitido
pela derrubada da floresta para estabelecimento de pastagens e pela ruminação e
as fezes dos animais. Além destes impactos, a atividade também é responsável
globalmente por 8% do uso de água potável, já que para se produzir um quilo de
carne bovina, são necessários 16 mil litros de água (somando-se a água usada na
irrigação dos grãos para alimento, dessedentar o animal e no processo de abate,
etc.).
Outras consequências
negativas (também chamadas "externalidades negativas" pelos
economistas), causadas pela pecuária são a compactação de solos e a liberação
de grandes quantidades de nitrogênio e fósforo pelas fezes dos animais nos
cursos d'água. Nos Estados Unidos, por exemplo, estima-se que 55% da erosão dos
solos e das precipitações de sedimentos nos rios, sejam provocados pelo gado.
Ajunte-se a isso ainda o fato de que 80% da produção mundial de soja, 70% da
produção do milho e 70% da aveia sejam destinados à alimentação de animais,
incluindo os bovinos. Especialistas informam que cerca de metade da produção
mundial de grãos é destinada à criação de animais e que esta quantidade poderia
alimentar outros dois bilhões de pessoas.
No Brasil, os maiores
frigoríficos - JBS, Mafrig e Minerva - já tornaram públicos seus esforços para
eliminar o desmatamento, o trabalho escravo e outros crimes socioambientais
relacionados com a atividade. A iniciativa é importante e deve ser aliada a
outros esforços do governo e da sociedade, como a implantação do Cadastro
Ambiental Rural (CAR), destinado ao controle dos imóveis rurais, e do Sistema
de Identificação e Certificação de Bovinos Bubalinos (Sisbov), para a
identificação de animais destinados à produção de carne.
Além destes esforços, também
é necessário que a humanidade - ou sua parcela rica - avalie a real necessidade
de tão grande consumo de carne e derivados, dado o imenso impacto ambiental que
este tipo de atividade tem sobre os recursos naturais. Os países destinam tanta
terra, água, insumos e energia para produção de carne, que cabe perguntar quem
se beneficia deste tipo de atividade. As "externalidades negativas" são
efetivamente compensadas por aqueles que ganham nesta cadeia produtiva e
revertidas em benefício dos que vivem à sua margem - pequenos agricultores,
comunidades pobres, indígenas, reservas florestais?
(Imagens: pinturas de Franz Marc)
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