"O paradoxo da imaginação reside no fato de que o imaginário nada é e jamais parece. O olhar direto faz os deuses morrerem." - Alain - As ideias e as épocas
Em pouco mais de dois anos,
em agosto de 2018, o país deverá estar preparado para colocar em funcionamento
um dos maiores projetos de gestão de resíduos em todo o mundo - pelo menos
teoricamente. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que deveria
entrar em vigor a partir de agosto de 2014, foi postergada para 2018 e para
prazos mais longos dependendo do município. Assim, as capitais e os municípios
de região metropolitana terão prazo até 31 de julho de 2018 para acabar com
lixões, substituindo-os por aterros sanitários construídos de acordo com
padrões técnicos aprovados. Já os municípios de fronteira e aqueles que
contavam com mais de 100 mil habitantes de acordo com o censo de 2010, terão
até julho de 2019 para realizarem as mesma obras. As cidade com 50 a 100 mil
habitantes, terão um prazo ampliado para julho de 2020. Finalmente, para os
municípios com menos de 50 mil habitantes (base 2010) o prazo final para
construírem seus aterros, será 31 de julho de 2021.
Com prazos tão esticados é
pouco provável que os atuais prefeitos - e até os futuros - estejam muito
preocupados com a questão da gestão dos resíduos em suas cidades. A
distribuição dos habitantes nos municípios brasileiros nos dá uma indicação
disso. O país tem 5.299 cidades com menos de 100 mil habitantes; 252 municípios
com população entre 100 mil e 1 milhão de pessoas; e 14 cidades com mais de um
milhão de habitantes (base 2008). Sendo assim, grande parte dos municípios
(95%) terá tempo até 2020, praticamente até o final do mandato dos prefeitos
eleitos em 2016, para colocarem em prática projetos de coleta seletiva,
organizarem as partes envolvidas e construírem aterros sanitários. Da maneira
como conhecemos nossas administrações públicas e a tolerância com que a Justiça
trata prefeitos infratores, é pouco provável que mesmo estes prazos, tão
alongados, sejam mantidos. Mas, até é possível milagres acontecerem.
A questão da correta gestão
dos resíduos - da coleta até a disposição final - é um dos grandes desafios do
Brasil moderno. Em 2014 o país gerou 78,5 milhões de toneladas de resíduos
sólidos urbanos, dos quais 90,6% foram coletados. Quase 10% do lixo brasileiro
acaba sendo enterrado em quintais, queimado em terrenos baldios ou simplesmente
espalhado em ruas e avenidas, dando aos lugares aparência de sujeira, atraso e
abandono. Do lixo efetivamente coletado 58,4% são direcionados aos aterros
sanitários e 41,6% são depositados em aterros controlados (eufemismo para lixo
compactado sem nenhum tratamento) e lixões. Em termos gerais é possível
depreender que a situação do lixo no Brasil continua ruim.
Projetos de reciclagem em
andamento ainda são poucos. Cerca de 1 mil cidades brasileiras têm implantados
projetos de tamanhos variados, mas o volume total do material reciclado não
passa dos 8% do total dos resíduos urbanos. Empresas de alguns setores se
organizaram e assinaram acordos setoriais com o Ministério do Meio Ambiente,
planejando implantar projetos logística reversa, para recolher seus resíduos -
embalagens, restos de produtos, baterias, etc.
Grande parte do lixo, no
entanto, ainda espera por uma destinação correta. São as prefeituras que darão
início ao processo, instituindo a separação obrigatória do lixo, organizado
catadores e construindo aterros sanitários. Os prazos foram dados, será que os
prefeitos estão preocupados?
(Imagens: fotografias de templos maias)
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