"Nossa época, embora fale tanto de economia, é esbanjadora: esbanja o que é mais precioso, o espírito." - Friedrich Nietzsche
Subiu em 24% o corte raso da
floresta tropical na região amazônica, durante o período que vai de agosto de
2015 a julho de 2016. Foram derrubados 6.207 km² contra 5.012 no período
anterior, pegando de surpresa o governo e as ONGs que atuam na região e voltando
a acender o sinal de alerta. Esta é a maior taxa de derrubada nos últimos
quatro anos.
O desflorestamento vinha
caindo há mais de dez anos, depois de atingir o pico de 27.772 km² de mata cortada
em 2004. Medidas implantadas durante os governos Lula e Dilma ajudaram a
gradualmente reduzir estes números, fazendo com que em 2012 fossem cortados
menos de 5.000 km². Segundo especialistas, a crescente queda no corte da
floresta parecia indicar uma tendência que, no entanto, não se manteve por
muito tempo. Apesar da crise econômica, que geralmente funciona como uma
atenuante nas taxas de derrubada, o ritmo de destruição da vegetação voltou a
subir.
Desta vez o corte das
árvores se deu em regiões já atravessadas por rodovias. A derrubada da floresta
é feita principalmente em terras públicas e têm como principal objetivo a
grilagem, a apropriação ilegal de imensas áreas. Depois de retirada a floresta,
a terra é ocupada por criação de gado; não tanto para produção de leite ou
corte, mas para mostrar que a terra tem dono – ou um ocupante – e está sendo
usada para uma atividade econômica, o que fortalece a ideia da posse da área.
O antigo conceito de que era
preciso derrubar a floresta para ampliar as atividades agrícolas ou pecuárias
está ultrapassado. Hoje existem terras suficientes para expandir a agricultura
e a criação de gado em outros lugares, sem necessidade de avançar sobre a
floresta. A atual ocupação de terras virgens está muito mais ligada à chegada do
grande latifúndio e seus agentes, com objetivo de fazer especulação imobiliária.
Existem muito grupos de investimento potencialmente interessados em adquirir
grandes extensões de terra na região para investimentos futuros.
A destruição da floresta
além de destruir os ecossistemas da região também prejudica populações locais,
que há centenas ou milhares de anos estão estabelecidas na região; caso dos
ribeirinhos, caboclos e dos índios. Estes povos estão de tal maneira integrados
ao ambiente da região, que sua destruição só irá prejudicá-los, afetando seu
modo de vida e sua cultura. O impacto ambiental, social e econômico da
construção das barragens hidrelétricas nos rios Madeira e Tocantins é exemplo
disso.
Outro aspecto é que
recentemente, durante a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima,
o Brasil assumiu, entre outros, também o compromisso de acabar com o
desmatamento na Amazônia até 2030. Essa medida deverá ser a mais importante
contribuição do país para reduzir as emissões globais de gases de efeito estufa,
já que mais de 60% das emissões brasileiras são causadas por desmatamentos na
região.
Especialistas consideram que
será difícil reduzir o desmatamento da floresta tropical a zero. Além da
complexidade em controlar toda a região, mesmo com a ajuda de satélites, a
vasta área ocupada pela vegetação dificulta o acesso dos órgãos de controle e o
combate a eventuais desmatamentos. Na melhor das hipóteses, espera-se que
gradativamente o governo possa manter uma tendência de queda e chegar a taxas
de desflorestamento baixas, mas ainda acima de zero.
(Imagens: desenhos de Wilhelm Busch)
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