"Para a pedra atirada, cair não é um mal, nem subir um bem." - Marco Aurélio - Meditações
Quem somos nós (Original: What the bleep do we
know?)
Estados Unidos, 2005
100 minutos aproximadamente
https://www.youtube.com/watch?v=EJIYrIWJ76o
Para
discutir a realidade do mundo físico e das percepções, os autores utilizam como
enrêdo a vida de uma jovem americana, Amanda, fotógrafa, portadora de
deficiência auditiva.
Amanda
está abalada, tomando anti-depressivos, por causa de seu casamento que acabou,
quando descobriu que seu marido mantinha um outro relacionamento.
A
partir desta história diversos especialistas (físicos, médicos psiquiatras,
médicos neurologistas, filósofos, engenheiros, professores e líderes
religiosos) começam a expor as mais recentes teorias da física quântica, da
neurologia e da psicologia comportamental.
Inicialmente,
são expostos diversos aspectos da nossa realidade cotidiana, que tomamos como evidentes
mas que – segundo algumas correntes de interpretação da moderna física quântica
– não são assim tão simples.
Grande
parte do que nós chamamos de matéria é na realidade espaço vazio. O átomo é
constituído por um núcleo e ondas de elétrons, mas entre os dois o espaço vazio
é imenso. O núcleo do átomo é vazio da mesma forma. Na realidade, o mundo das
subpartículas só pode ser definido sob três aspectos: idéias, conceitos e
informações. A matéria perdeu efetivamente sua materialidade.
Além
disso, baseado no princípio de indeterminação (teoria da física que diz que
nunca podemos determinar a posição da sub-partícula sem afetá-la) existe a
possibilidade (teórica) de que afetemos a própria matéria, ou seja, nossa
realidade diária. Aliando o princípio de indeterminação com um outra teoria que
diz que uma partícula pode estar em vários lugares ao mesmo tempo, chega-se à
conclusão (e esta também não é absolutamente unânime na física teórica moderna)
de que influímos a realidade circundante. A partir destas premissas os autores
do filme desenvolvem vários raciocínios, colocando questões como:
O que é
a realidade, o que vemos ou percebemos?
O que é o
passado e o futuro? Por que só lembramos o passado e não o futuro? Por que só
podemos mudar o futuro e não o passado?
O passo
seguinte do filme é explicar, a grosso
modo, como funciona a química cerebral, as percepções, para em seguida
formular mais questões, como:
Como
funcionam o cérebro e as percepções? Existe uma diferença entre a realidade
dentro do cérebro e a exterior? Quem é o observador do mundo exterior? Onde
está?
O
próximo passo é fazer uma junção entre os pensamentos da física quântica com os
da neurologia (novamente frisando de que estas teorias não são compartilhadas
pela maioria dos físicos ou neurologistas da atualidade). A proposta é mais ou menos
assim: se o mundo exterior é influenciável pelo cérebro e se não existe uma
diferença entre a realidade interna e a externa, então podemos alterar de certo
modo a realidade (o mundo exterior) e nossa mente (o mundo interior).
A
partir daí é um pequeno passo para que a própria pessoa se torne dona do seu
destino, podendo moldá-lo e alterá-lo como necessário.
Para
dar um toque mais místico ou religioso ao documentário, os diretores convidaram
uma líder de uma seita religiosa e um teólogo. Ambos, muito progressistas,
colocaram em cheque o conceito de um deus pessoal, controlador e vingativo.
Nossa
personagem Amanda, passa no decorrer do filme por várias experiências (que no
mundo real teriam enlouquecido qualquer pessoa), para no final ultrapassar seu
trauma com o casamento e readquirir sua auto-estima.
O filme, no entanto, levanta muitas questões, despertando o interesse para um aprofundamento do que é discutido.
(Imagens: pinturas de James Ensor)
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