Comentário sobre o filme "Quem somos nós?"

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

"Para a pedra atirada, cair não é um mal, nem subir um bem."  -  Marco Aurélio  -  Meditações


Quem somos nós (Original: What the bleep do we know?)
Estados Unidos, 2005
100 minutos aproximadamente
https://www.youtube.com/watch?v=EJIYrIWJ76o

Para discutir a realidade do mundo físico e das percepções, os autores utilizam como enrêdo a vida de uma jovem americana, Amanda, fotógrafa, portadora de deficiência auditiva.
Amanda está abalada, tomando anti-depressivos, por causa de seu casamento que acabou, quando descobriu que seu marido mantinha um outro relacionamento.
A partir desta história diversos especialistas (físicos, médicos psiquiatras, médicos neurologistas, filósofos, engenheiros, professores e líderes religiosos) começam a expor as mais recentes teorias da física quântica, da neurologia e da psicologia comportamental.
Inicialmente, são expostos diversos aspectos da nossa realidade cotidiana, que tomamos como evidentes mas que – segundo algumas correntes de interpretação da moderna física quântica – não são assim tão simples.
Grande parte do que nós chamamos de matéria é na realidade espaço vazio. O átomo é constituído por um núcleo e ondas de elétrons, mas entre os dois o espaço vazio é imenso. O núcleo do átomo é vazio da mesma forma. Na realidade, o mundo das subpartículas só pode ser definido sob três aspectos: idéias, conceitos e informações. A matéria perdeu efetivamente sua materialidade.



Além disso, baseado no princípio de indeterminação (teoria da física que diz que nunca podemos determinar a posição da sub-partícula sem afetá-la) existe a possibilidade (teórica) de que afetemos a própria matéria, ou seja, nossa realidade diária. Aliando o princípio de indeterminação com um outra teoria que diz que uma partícula pode estar em vários lugares ao mesmo tempo, chega-se à conclusão (e esta também não é absolutamente unânime na física teórica moderna) de que influímos a realidade circundante. A partir destas premissas os autores do filme desenvolvem vários raciocínios, colocando questões como:
O que é a realidade, o que vemos ou percebemos?
O que é o passado e o futuro? Por que só lembramos o passado e não o futuro? Por que só podemos mudar o futuro e não o passado?
O passo seguinte do filme é explicar, a grosso modo, como funciona a química cerebral, as percepções, para em seguida formular mais questões, como:
Como funcionam o cérebro e as percepções? Existe uma diferença entre a realidade dentro do cérebro e a exterior? Quem é o observador do mundo exterior? Onde está?
O próximo passo é fazer uma junção entre os pensamentos da física quântica com os da neurologia (novamente frisando de que estas teorias não são compartilhadas pela maioria dos físicos ou neurologistas da atualidade). A proposta é mais ou menos assim: se o mundo exterior é influenciável pelo cérebro e se não existe uma diferença entre a realidade interna e a externa, então podemos alterar de certo modo a realidade (o mundo exterior) e nossa mente (o mundo interior).
A partir daí é um pequeno passo para que a própria pessoa se torne dona do seu destino, podendo moldá-lo e alterá-lo como necessário.
Para dar um toque mais místico ou religioso ao documentário, os diretores convidaram uma líder de uma seita religiosa e um teólogo. Ambos, muito progressistas, colocaram em cheque o conceito de um deus pessoal, controlador e vingativo.
Nossa personagem Amanda, passa no decorrer do filme por várias experiências (que no mundo real teriam enlouquecido qualquer pessoa), para no final ultrapassar seu trauma com o casamento e readquirir sua auto-estima.


As teorias apresentadas no filme não representam o que existe de mais moderno no campo da física de sub-partículas, e no da neurologia – que aliás foi abordada muito superficialmente. O conceito de “ego”, da personalidade por trás dos atos, não foi discutido em detalhes, merecendo uma curta menção apenas.  
O filme, no entanto, levanta muitas questões, despertando o interesse para um aprofundamento do que é discutido. 
(Imagens: pinturas de James Ensor)

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