"Nenhuma invenção foi mais fácil para a humanidade do que o céu"
(G. C. Lichtenberg)
Lula e Francisco
Há poucos dias, o ex-presidente Lula foi recebido pelo papa Francisco. O fato foi pouco comentado ou quase ignorado pela maior parte da imprensa. O Jornal Nacional, que deu grande destaque aos encontros de outras personalidades brasileiras com este e outros papas, fez apenas uma brevíssima referência ao encontro. Nas redes sociais, houve fortes ataques a Lula e ao papa de um lado, e efusivos elogios de outro.
No
varejo dos diversos grupos do WhatsApp e do Facebook, a impressão é que a
visita de Lula a Francisco causou desgosto aos apoiadores do presidente
Bolsonaro. Foram várias as manifestações, referindo-se ao sumo pontífice como
“comunista”, associando isto ao fato de ser argentino. Parece que nossa velha
xenofobia em relação aos argentinos ainda não foi superada – acontecimentos
recentes têm contribuído para manter o tema em pauta.
Outros
lamentam o fato de que o chefe máximo da igreja católica tenha recebido em
audiência privada “o maior ladrão na história brasileira”, figura que, segundo
estes “tanto mal fez ao Brasil”. Independentemente disto, vale lembrar que a
função do papa, como sacerdote e representante de Deus, é exatamente esta:
receber e confortar os pecadores (lembrando que, pelo menos em relação aos
pecados dos quais é acusado por estas pessoas, o processo do julgamento de Lula foi fortemente influenciado por forças políticas, as quais, acima de tudo, queriam tirá-lo das eleições de 2018).
A
visita do ex-presidente ao pontífice levanta outras questões sobre a sociedade
brasileira. Por um lado, parece que parte dos católicos conservadores,
acompanhando setores igualmente conservadores do clero local, colocam-se contra
Francisco e suas decisões pontifícias. Nestas condições, personagens, políticas
e ideias conservadoras, sejam quais forem, despertam a simpatia de tais grupos
sociais. Aqueles que por uma razão ou outra não têm o apoio das lideranças
conservadoras, por defenderem outro tipo de visão da sociedade, são considerados
inimigos – e Lula cristaliza esta situação –, são rechaçados e atacados.
Por
outro lado, parece que para as alas menos progressistas da igreja católica
brasileira a situação política e social do país não é o motivo principal de seu
reacionarismo. O objetivo primordial de suas ações é fazer oposição à posição
progressista do papa Francisco na condução da Igreja. O momentâneo alinhamento
com muitas posições retrógadas do presente governo (Bolsonaro) é muito mais
baseado em estratégia do que em convicções.
Parece que a situação política do país é o fator mais importante a provocar uma divisão entre católicos conservadores e progressistas. A posição do papa em relação a certos temas provavelmente provocaria pouca reação entre os fiéis, se o governo de Bolsonaro não tivesse uma agenda conservadora tão acentuada. Haverá
no Brasil uma divisão definitiva entre grupos católicos conservadores e outros
mais progressistas? Vale observar, por outro lado, que os grupos evangélicos também não estão apoiando Bolsonaro e seu governo em sua totalidade.
Até que ponto os futuros governos do Brasil, sua ideologia e as condições sociais, influirão nesta divisão entre progressistas e conservadores? E se o próximo papa for alguém tão progressista quanto Francisco?
Até que ponto os futuros governos do Brasil, sua ideologia e as condições sociais, influirão nesta divisão entre progressistas e conservadores? E se o próximo papa for alguém tão progressista quanto Francisco?
(Imagem: retrato de G.C. Lichtenberg)
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