Ciclos da natureza

sábado, 1 de fevereiro de 2020
"A coisa que mais deve ser desenvolvida é a própria vida. Nossa vida não deveria apenas ir arrastando-se - uma coisa boba atrás da outra -, porém deveria mover-se propositadamente adiante, em direção a um objetivo final e realizador."   -   Richard Schoch   -   A história da (in)felicidade 


Tudo na natureza passa por ciclos; fenômenos, comportamentos, atividades, processos, que se repetem ao longo de um período de tempo. Horas, dias, meses, anos, décadas e séculos ou períodos cronológicos muito maiores. O mais conhecido é o ciclo circadiano; um processo que afeta o ciclo biológico dos organismos durante um período de 24 horas, influenciado principalmente pela variação da luz do dia e da noite. O ciclo também sofre interferência das marés, das fases lunares, correntes eólicas e marítimas. A dinâmica circadiana atua de diferentes maneiras sobre plantas e animais, microrganismos e seres humanos, mostrando que as influências dos astros, do clima, da geologia e da ecologia são maiores à vida do que pensa o senso comum.

A variação das estações ao longo do ano exerce uma importante influência na vida do planeta, condicionando o desenvolvimento dos seres vivos desde sua origem, há cerca de 3,8 bilhões de anos. Estudos recentes realizados em importantes universidades mostram que o organismo humano sofre variações em sua estrutura genética ao longo das quatro estações. A Dra. Silvia Sánchez Ramón, chefe da Unidade de Imunologia Clínica do hospital Ruber Internacional de Madrid, afirma que 23% do genoma humano oscila durante as estações do ano e que ocorrem mudanças significativas em mais de 4 mil genes dos glóbulos brancos do sangue e em células do tecido adiposo. Isto significa, conforme a especialista, que o organismo está sujeito a doenças específicas, conforme as estações do ano.

Os ciclos glaciais e interglaciais, aos quais o planeta está sujeito através da sucessão de períodos frios, quando parte da água dos oceanos está congelada, e períodos mais quentes, durante os quais os oceanos estão com pouco ou sem congelamento algum, têm se sucedido ao longo da história geológica. Segundo dados mais recentes da ciência, a Terra passou por seis grandes eras do gelo ao longo de sua história. A mais recente, teve início há cerca de 2,5 milhões de anos, no período Quaternário, e se estendeu até aproximadamente 10 mil anos atrás, quando teve início o período geológico do Holoceno. Interessante é que devido ao imenso impacto das atividades humanas ao clima do planeta durante estes últimos dez milênios – basta lembrar da invenção da agricultura, das cidades, das máquinas –, muitos cientistas pretendem mudar o nome deste período de Holoceno para Antropoceno (antropo em grego significa homem). 


Em grande parte dos fenômenos do mundo físico, podem ser identificados processos cíclicos: os dias, as estações, as marés, as fases da Lua. A vida, por sua vez se adaptou a estas constantes mudanças e repetições. Através da floração, produção de frutos e perda das folhas, no caso das plantas; pelas migrações, acasalamento e cuidado com os filhotes, no caso dos animais. Até o universo, de acordo com as modernas teorias da astronomia, tem seu período de expansão e, depois de centenas de bilhões de anos, ocorre sua retração – para que depois o processo se repita.

A humanidade está interferindo nos ciclos da natureza, com suas agressivas atividades exploradoras dos recursos naturais. Corremos o risco de definitivamente interrompermos ciclos importantes como o da água, dos nutrientes do solo, do clima, das migrações, da reprodução de espécies, entre muitos outros. No extremo, podemos interromper ciclos vitais à sobrevivência de nossa espécie.

(Imagens: pinturas de François Morellet)

0 comments:

Postar um comentário