Os
microrganismos têm uma função importante no equilíbrio ambiental do planeta.
Antes de mais nada, é preciso dizer que tudo começou com eles. Os primeiros
seres vivos foram organismos unicelulares, provavelmente similares às bactérias
atuais. Surgiram no planeta há cerca de 3,8 bilhões de anos, por um longo
processo que teve origem na matéria inanimada. Desde o século XIX a ciência
desenvolveu quatro ou cinco grandes teorias sobre como se deu este salto da
matéria inanimada para a vida, mas até o momento nenhuma delas pode dar
resultados definitivos em experiências controladas. Toda vida sobre o planeta descende
daquele primeiro organismo, que em um instante específico do passado remoto,
passou a existir como criatura viva, capaz de realizar seu metabolismo, crescer
e se reproduzir. Durante a maior parte da história da vida, esta ficou restrita
aos organismos unicelulares. As primeiras criaturas pluricelulares surgiram há
cerca de 550 milhões de anos, quando também se deu divisão entre os seres vivos
que desenvolveriam as plantas e os que formariam os animais.
A
partir deste simples e invisível início a vida se espalhou pelo planeta, gerando
as mais diferentes formas de seres em seus respectivos reinos: monera
(bactérias ou cianobactérias), protistas (algas unicelulares e protozoários),
fungi (fungos), plantae (plantas) e animália (animais). Movidos pelo impulso de
conservação, ocuparam e ajudaram a formar ambientes propícios, através de um
relativo equilíbrio com outras espécies, mas sempre em competição pela
sobrevivência. Por este processo se organizaram os mais complexos ecossistemas,
como os bancos de corais, a floresta amazônica ou a microbiota intestinal
(flora intestinal) do trato digestivo. A base que sustenta em grande parte o
funcionamento de todas estas complexas estruturas, constituídas por milhões ou
bilhões de espécies vivas, é mantida pelos microrganismos.
Os
microrganismos, quase todos, só podem ser vistos por microscópios, que em
muitos casos precisam ser bastante potentes e só foram desenvolvidos nos anos
1930. Esta espécie de criaturas inclui as bactérias (monera), os protozoários
(protista), as algas unicelulares (protista), os fungos (fungi) e os vírus. Estes
últimos não são propriamente considerados seres vivos. Interessante notar que
dos cinco reinos de seres vivos existentes, três são constituídos em grande
parte por espécimes microscópicos – na vida, considerando o número de
indivíduos e talvez de espécies, a regra ainda é o microscópico. A quantidade
de microrganismos presentes na Terra excede em muito os padrões humanos. A
massa total de células microbianas no planeta é aproximadamente 25 vezes o
total da massa animal. Uma grama de solo (aproximadamente o peso de três grãos
de feijão), pode conter cerca de um bilhão (1.000.000.000) de micróbios,
divididos em algumas milhares de espécies.
Ainda não se conhecem todas as espécies de vida na Terra, muito menos as microbianas. Estima-se que a ciência até hoje só tenha identificado cerca de 1% dos microrganismos existentes no planeta. Além de seu diminuto tamanho, estas criaturas são encontrados em qualquer lugar: no fundo do gelo das regiões polares, nas profundezas do oceano a milhares de metros, em gêiseres onde as temperaturas chegam a 100ºC e até a 3 quilômetros no solo, abaixo da superfície. São os tipos de organismos mais resistentes e adaptados do planeta. Não será uma grande surpresa se a missão da NASA Rover Mars 2020, que deverá chegar ao Planeta Vermelho em 2021 para realizar várias prospecções, encontrar indícios de vida microscópica em Marte. Provavelmente, se ainda sobreviverem até lá, microrganismos como as bactérias serão os últimos seres vivos a sobreviverem na Terra, antes que nosso planeta seja engolido pela expansão do Sol, daqui a cinco bilhões de anos.
O
maior serviço que os microrganismos vêm prestado ao restante dos seres vivos da
Terra é decomposição de matéria orgânica. Na longa cadeia alimentar na qual se
baseia a vida, os organismos produtores são aqueles que, como as plantas,
produzem seu próprio alimento. Em seguida há os macroconsumidores, que se
nutrem da matéria orgânica de outros seres vivos, localizados abaixo deles na
escala de alimentação. São os herbívoros, os carnívoros e os animais onívoros.
Descendo a escala, encontramos os microconsumidores, que tanto podem ser pluri ou
unicelulares e se alimentam da matéria orgânica morta, ou por parasitismo, como
os cerca de 390 trilhões (390.000.000.000.000) de microrganismos que cada ser
humano carrega em seus intestinos. Por fim, existem os decompositores, os mais
importantes em toda esta longa cadeia da vida, pois decompõem e retornam à
natureza o que restou no “final de tubo” de todo o processo. Dissolvem tecidos
orgânicos, quebram moléculas e assim repõem elementos como o nitrogênio,
oxigênio, ferro, enxofre e carbono de volta ao solo, de onde estes elementos
são reabsorvidos pelas raízes das plantas (organismos produtores), dando início
novamente ao ciclo da vida, enquanto ela perdurar sobre a Terra.
A
saúde de um solo depende diretamente da quantidade de microrganismos e outros
pequenos animais que o habitam. Em 1 cm³ de solo de pastagem, por exemplo, podem
ser encontrados milhões de bactérias, milhares de protozoários, centenas de
metros de hifas de fungos, centenas de térmitas e outros insetos, além de
outros organismos. Se todo este imenso ecossistema habita apenas 1 cm³ de solo,
tentemos imaginar as centenas de trilhões (ou serão mais?) de organismos que
vivem em solos como o da Amazônia ou do Cerrado. Assim, é fácil compreender
porque o desmatamento, a queima da vegetação, o uso de agrotóxicos, a
monocultura extensiva e a erosão destroem a terra. Todo bom agricultor sabe que
em média se formam 10 t/ha/ano (dez toneladas por hectare por ano) de solo
novo, enquanto que as perdas anuais, dependendo de como a terra é manejada, podem
chegar de 120 a 150 t/ha.
Os microrganismos, as bactérias especialmente, são os criadores e mantenedores da vida no planeta. São nossos antepassados muito, muito remotos e, com certeza, depois que nossa espécie tiver desaparecido, seja por que motivo for, eles ainda estarão aqui por muito tempo. Foram os primeiros a chegar e serão os últimos a sair.
(Imagens: pinturas de Max Pechstein)
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