A
pandemia não acabou. Mesmo assim, parecia que em todo o mundo a doença havia sido
debelada. Era comum, através das reportagens, vermos pessoas jovens e velhas
andando sem máscara, retomando normalmente suas atividades, interagindo com outras pessoas, inclusive em locais públicos. Foi
assim que a maior parte da população europeia teve a impressão de que a covid
havia passado. Os casos diminuíram, as medidas de segurança e profilaxia foram
afrouxadas, e, aos poucos, instalou-se uma situação de “já passou”.
No
entanto, ao longo das últimas semanas, numa progressão exponencial, os casos de
novas infecções com o vírus foram aumentando. Espanha, França, Itália e
Inglaterra viram as vítimas aumentarem rapidamente, forçando seus governos a
reintroduzirem medidas de contenção da circulação de pessoas, aglomerações e
contatos. Quando parecia que, lentamente, a vida das pessoas e a economia estavam
voltando ao normal, a Europa retornou aos níveis de contaminação e internação de
doentes de seis meses antes. Outras parte do mundo, como a Índia, o Paquistão, o
Irã e o Japão também enfrentam o recrudescimento da pandemia. Nos Estados
Unidos, onde a pandemia não havia diminuído sensivelmente, a situação agora também piorou,
aumentando mais ainda o número de internações e mortes.
A
população pobre, como sempre acontece em situações de crise, está sendo a mais
prejudicada; falta de água, de condições de moradia seguras, de recursos
financeiros para manter o isolamento e, depois da fase aguda da pandemia, o
desemprego. Os efeitos funestos da covid na economia ainda perdurarão por
muitos meses, provocando o fechamento de empresas e de postos de trabalho. Os
mais prejudicados são aqueles que não detêm reservas econômicas, os pobres.
Mais um motivo para que se iniciem discussões sobre uma renda universal básica.
Fato
que chama a atenção dos analistas é a atitude negacionista de parte da
população mundial, inclusive do Brasil. Não se trata de uma rebeldia contra as
medidas de proteção impostas pelos governos – isolamento social, uso de
máscaras, limitação da circulação de pessoas, etc. Também não é o tipo de
atitude de oposição a prefeitos ou governadores, principalmente por motivos
políticos, como ocorreu aqui no Brasil e em várias partes do mundo. É a
atitude, consciente ou não, de não se usar máscaras de proteção, não se respeitar
o isolamento social e outras práticas de proteção contra a doença.
Parte
destas pessoas, entre os quais muitos idosos e pessoas de grupos de risco, não
está convencida da gravidade e mortalidade do vírus. Muitos, mesmo aqueles com
mais alto nível de instrução, acreditam que o número de mortes anunciadas pelos
veículos de comunicação – e que até agora não foram refutadas por autoridades e
especialistas – é exagerado ou até inverídico. A TV mostrou por diversas
vezes as centenas ou milhares de pessoas em bares e restaurantes, aglomeradas e
sem máscara, em muitas cidades mundo afora.
Não
têm preocupação com os riscos que correm, mesmo sabendo do perigo, que
eventualmente pode ser mortal. Na maior parte dos casos, no entanto, não se
trata de coragem consciente para, se necessário, enfrentar a doença e suas
consequências, mas de uma estranha passividade. Daqui a cinquenta ou cem anos,
quando historiadores estudarem o período histórico da pandemia, como
interpretarão essa indiferença quase suicida?
(Imagens: Antonio Berni)
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