Meio ambiente e uso de recursos

sábado, 21 de novembro de 2020

 

"Últimas palavras de Gogol (escritor russo): 'Uma escada, rápido, uma escada!'"   -   Elias Canetti   -   Sobre os escritores 


Quase todas as atividades econômicas têm algum tipo de impacto ambiental negativo ao meio ambiente. Extração de petróleo e minérios, captação de água, criação de loteamentos, plantio de árvores para extração de madeira, industrias de diversos tipos, etc. Mesmo as atividades humanas mais singelas, como o carrinho de pipoca na praça, o restaurante e o escritório de contabilidade; todos têm algum tipo de impacto negativo na natureza, como uso de água, poluição do ar, geração de resíduos, uso de recursos não renováveis.

Os cientistas perceberam as consequências das práticas econômicas no meio ambiente – os economistas falam nas externalidades de uma atividade econômica – e desenvolveram gradualmente procedimentos e tecnologias que reduzem o que, em outras palavras, poderíamos chamar de dano ao meio ambiente. Lembrando que o meio ambiente pertence a todos os cidadãos, sendo um bem comum, concluímos que toda atividade que impacta um ambiente ou seus recursos naturais, está provocando algum tipo de prejuízo a todos. Por exemplo, se eu exerço uma atividade econômica e, através dela, causo danos ao ambiente, como descarga de esgoto ou geração de fumaça, estou auferindo lucros à custa de um bem que é coletivo. Minha fábrica polui as águas do córrego que é um bem comum da população do bairro, ou da cidade onde atuo com meu negócio.


Ficou assim estabelecido através de diversas leis, que toda atividade econômica precisa minimizar ou eliminar todos seus efeitos danosos ao meio ambiente. Se, efetivamente, a atividade se tornar poluente, seu gerador precisa pagar pela recuperação do ecossistema destruído por sua ação. No caso da minha indústria, preciso tratar os efluentes antes de lançá-los no córrego, ou até não descarregar o esgoto no curso d’água, recuperando e reciclando o líquido que utilizo.

Esta seria a situação ideal. Ideal no Brasil, porque na maior parte dos países avançados industrialmente esta prática é comum. Tão comum, que em vários ramos das atividades econômicas, muitos governos federais e locais incentivam a pesquisa, a fabricação e a implantação de tecnologias que permitam reduzir a poluição. O conceito, conhecido como “produção mais limpa”, também utilizado em indústrias de ponta no Brasil, procura otimizar o uso dos insumos produtivos – matérias primas, água, energia, equipamentos, mão de obra, etc. – gerando o mínimo possível de resíduos, como efluentes, gases e resíduos sólidos. Em segmentos econômicos altamente competitivos, como a indústria eletroeletrônica e a automobilística, o uso racional de recursos e a redução dos impactos ambientais – e os custos implicados em sua eliminação – são fatores fundamentais para o sucesso de uma marca.

A participação da indústria brasileira na economia vem lentamente caindo ao longo das últimas três décadas; o país está se desindustrializando. Diminuíram os investimentos em novas linhas de produção e na modernização – leia-se otimização – das unidades produtivas já existentes. Isto, em outras palavras, também quer dizer que a indústria não está produzindo de uma maneira mais eficiente, seja do ponto de vista econômico ou ambiental. Além de tornar nossos produtos menos competitivos, isto também faz com que nossos processos industriais sejam mais poluidores e dissipadores de insumos.


A maior parte das indústrias médias brasileiras, principalmente aquelas dos segmentos industriais mais tradicionais, não dispõe de incentivos e pressões para investir em processos produtivos mais modernos. Por um lado, não sofrem pressão de seus clientes ou consumidores, talvez exigindo produtos mais modernos ou fabricados com menor impacto ambiental. A concorrência que enfrentam de produtos importados mais modernos é reduzida, e a pressão das agências ambientais para a implantação de tecnologias de fabricação mais limpas é reduzido.

Já em centros industrias de ponta, como os Estados Unidos, o Japão, a China e a Alemanha, a história é diferente. Além de leis ambientais cada vez mais restritivas, notadamente na Europa, as indústrias são pressionadas por suas associações, por seus clientes, por agências ambientais e pela competição dos concorrentes, a tornarem seus processos sempre mais eficientes, utilizando menos recursos. Matérias primas, energia e outros recursos naturais são cada vez mais caros nessas regiões, e nada pode ser desperdiçado – além da pressão de uma opinião pública muito consciente, que exige atividades industriais cada vez menos impactantes.  

Gradualmente, preveem os especialistas, com o aumento da pressão em todos os países por redução de emissões de gases e de resíduos, dominarão o mercado apenas as indústrias mais eficientes. Àquelas industrias, que por várias razões não puderem se modernizar, sobrarão apenas os mercados e os clientes/consumidores menos exigentes, que evidentemente terão um poder de consumo mais baixo.



Mas isto é apenas parte da história. Qualquer atividade econômica situada na produção, na distribuição ou no consumo, nunca chegará ao ponto de eliminar completamente a geração de externalidades, com impacto sobre o meio ambiente. A teoria do “resíduo zero”, disseminada por algumas instituições ligadas à pesquisa da produção e do consumo nos anos 1990, nunca será alcançada. Sempre, durante toda a cadeia produtiva e de consumo, sobrará algum resíduo ou emissão. Com isso num prazo ainda não calculado, ficarão escassos os insumos, como certos metais e terras raras, petróleo, água limpa, terras aráveis, entre outros. Mas isto já é tema para um outro artigo.          


(Imagens: fotografias de Letizia Battaglia)


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