Comemorou-se
ontem, 1 de outubro de 2021, O Dia Nacional do Idoso e o Dia Internacional da
Terceira Idade. A data foi criada em 1991 pela Organização da Nações Unidas
(ONU), a fim de conscientizar as comunidades humanas da importância das pessoas
idosas na estrutura social, e proporcionar aos anciãos uma vida mais
proveitosa. Em dezembro de 2020 a Assembleia Geral da ONU declarou o período de
2021 até 2030 como a Década do Envelhecimento Saudável (https://www.paho.org/pt/noticias/14-12-2020-assembleia-geral-da-onu-declara-2021-2030-como-decada-do-envelhecimento).
No Brasil, a data comemorativa foi instituída em 2006, durante o governo de
Luís Inácio Lula da Silva.
Tecnicamente
a Organização Mundial de Saúde (OMS) classifica como idosos as pessoas com mais
de 65 anos de idade nas nações desenvolvidas e acima de 60 anos nos países em
desenvolvimento. No Brasil atualmente cerca de 15% da população –
aproximadamente 31 milhões de pessoas – situam-se na categoria de idosos. A
principal lei que rege sobre o tema é a Lei nº 10.741, o Estatuto do Idoso,
aprovado em 1 de outubro de 2003 (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.741.htm.).
Em seu Artigo Segundo, o texto do documento legal define:
“Art.
2º: O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa
humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se
lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para
preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral,
intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.”
Se a
lei estabelece diversos direitos para as pessoas idosas, seja de acordo com as
diretrizes dos órgãos internacionais nos quais o Brasil participa (ONU, OMS),
ou através de legislação específica criada no país (Estatuto do Idoso), a
situação real da maioria dos idosos no Brasil ainda deixa muito a desejar. A
condição dos velhos, no acesso aos benefícios e direitos estabelecidos por lei,
depende em grande parte de sua situação social; da classe econômica à que
pertencem.
Enquanto
que sêniores dos cerca de 20% mais ricos da população dispõem de recursos
médicos, alimentação, moradia, lazer e outras vantagens, 80% dos restantes dos idosos
brasileiros sobrevivem nas mesmas condições difíceis em que sempre viveram –
ou, às vezes, em situações piores. Isto porque o valor médio das aposentadorias
pagas no Brasil é baixo, (em novembro de 2020 o valor médio mensal do benefício
pago pelo INSS era de R$ 1.349,05), em relação ao custo de vida no país. No
entanto, as alterações nas aposentadorias de funcionários do setor privado e
público, excluindo os militares, introduzidas pela Reforma da Previdência votada em 2020, deverá diminuir ainda mais os valores dos benefícios pagos pelo
Estado brasileiro no futuro.
Voltamos
novamente ao assunto que já abordamos por várias vezes em nossos artigos neste
blog. Enquanto não se criarem condições de igualdade para todos, a começar por
uma alimentação, assistência e educação de boa qualidade na fase da infância e
juventude – pública, onde estudam os filhos do empresário e do empregado, como
ocorre nas nações desenvolvidas – não poderá haver uma mudança nas condições
socioeconômicas da maior parte da população. Esta assimetria social tem
influências em todos os outros aspectos da sociedade: acesso a empregos melhor
remunerados, cargos políticos, benefícios de diversos tipos, incluindo
aposentadoria, assistência médica e vida mais digna na velhice (na “melhor
idade”, eufemismo criado para escamotear uma realidade muitas vezes sórdida e
cruel).
O Brasil, no entanto, sempre caminhou em direção contrária, comandado pelos grupos que dominam desde sempre a economia e, consequentemente a política. A própria estrutura do Estado é formada de modo a atender aos interesses apenas destes grupos e daqueles diretamente ligados a eles, as (cada vez menores) classes médias.
A grande massa da população sempre teve que se contentar com as migalhas: a fila da vaga de emprego, a fila do SUS, a fila do auxílio emergencial, a fila do seguro-desemprego, a fila da distribuição de comida, etc., etc... Assim, o Dia do Idoso é apenas mais uma data comemorativa para celebrar um ideal, o qual ainda estamos muito longe de alcançar – pelo menos pela maior parte da população.
(Imagens: pinturas de Jyoti Bhatt)
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