“Qual
é a agenda da nova direita? Na verdade, se a observarmos, ela é velha até cair
de podre. No século XIII, os nominalistas separaram linguagem e mundo. E a
teoria averroísta da dupla verdade cindiu religião e ciência. Mais tarde,
Maquiavel sacralizou a ruptura entre moral e política. A nova direita, em seus
surtos de integrismo católico ou de fundamentalismo evangélico, reconecta em
uma mesma massa conceitual religião, natureza, ciência, política e moral. É,
portanto, pré-nominalista e pré-maquiavélica.
No
século XVIII, Kant fez a crítica do realismo metafísico, pois tudo o que
existe, existe na mente. A nova direita afirma Deus, o mundo e as religiões
como realidades. É portanto pré-kantiana. Antes do criticismo kantiano, Descartes
fizera crítica da autoridade e da tradição, pois nenhuma delas pode fornecer
fundamento aos nossos juízos. O que a nova direita mais ama além de tradição e
autoridade? A nova direita é, portanto, pré-cartesiana e pré-racionalista.
Nos
séculos XIX e XX, a psicanálise inseriu a sexualidade no âmago da atividade
simbólica. Separou, radicalmente, sexo e gênero, anatomia e desejo. À medida
que é sexista e naturalista, a nova direita é pré-freudiana. Quando fala em
raças, a nova direita também é pré-darwinista, pois não compreendeu ainda a
teoria da evolução das espécies feita pelo acaso e não por qualidades inerentes
aos seres vivos. Por fim, quando defende valores universais, a nova direita
demonstra que luta contra Marx sem ter compreendido sequer uma linha de Marx.
Luta contra um fantasma. Agora que todo valor é um valor particular
universalizado.”
Rodrigo Petronio, professor, escritor e
filósofo, em O complexo de Bacamarte,
publicado na revista Filosofia Ciência &
Vida nº 146
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