"Os seres humanos são como o mecanismo de um relógio: dá-se-lhes corda e caminham sem saber por quê." - Arthur Schopenhauer - A arte de envelhecer
O
conflito entre a Rússia e a Ucrânia já se estende por vinte dias até esta data (15/3/2022). Mais de dois
milhões de ucranianos deixaram sua pátria em direção a outros países,
principalmente a Polônia, Eslováquia e Romênia, fugindo da guerra. Cidades e
aldeias estão sendo bombardeadas e destruídas. Até escolas, áreas residenciais
e hospitais não estão sendo poupadas pelas tropas russas. Paralela à guerra das
armas, ocorre a guerra de informações: ucranianos declaram já terem destruído centenas
de veículos militares russos, enquanto que russos anunciam um avanço rápido e
desimpedido das suas tropas. Na guerra, a primeira vítima é a verdade, dizem
correspondentes de guerra experientes.
No
Ocidente começou um imenso bloqueio econômico à Rússia. Putin, centenas de
membros do seu governo e oligarcas que o apoiam, tiveram seus bens e seus
recursos financeiros bloqueados por bancos e governos europeus e pelos Estados
Unidos. Empresas transnacionais que vinham atuando na Rússia – gigantes como o
McDonalds, Starbucks, Coca Cola, Adidas, Apple, Mastercard, Bunge, Arcelor
Mittal, entre centenas de outras – encerraram temporariamente suas atividades. Companhias
internacionais de transporte marítimo e rodoviário, além de companhias aéreas, igualmente
suspenderam todo tipo de operação na Rússia. A guerra está custando caro a
Putin e aos seus apoiadores.
Analistas
políticos informam que o presidente Putin perdeu grande parte do apoio de seus
aliados internos, a elite econômica. Entre o povo, onde sempre gozava de
admiração, também começa a cair em descrédito, à medida que a situação
econômica se deteriora e a guerra não chega a um desfecho. Uma classe média
formada por profissionais liberais, professores, estudantes e funcionários
públicos de alto escalão, lidera as manifestações que só tendem a se alastrar,
à medida que estes grupos sociais se sentem cada vez mais afastados do padrão
de vida europeu que detinham. O isolacionismo cada vez mais autoritário de
Putin não agrada – principalmente aos ricos e à classe média culturalmente
influenciada pelo modo de vida europeu e americano.
O
Ocidente impõe um forte bloqueio econômico à Rússia, tentando enfraquecer o
poder interno e externo do autocrata, de modo a apressar o final do conflito
através de negociações entre os dois países. Alguns analistas, no entanto,
alertam para uma eventual dose excessiva do remédio. O isolamento econômico e
político prolongado da Rússia – e o efeito desta segregação imposta à sociedade
russa – pode, ao invés de enfraquecer o líder russo, fortalecê-lo. Pode
colocá-lo como guia de um movimento de revanche contra o Ocidente,
principalmente seus vizinhos europeus. Desmantelar grande parte da economia de
um país, deixando a população em situação de grande necessidade, sentindo-se
abandonada, pode trazer consequências nefastas para os causadores desta
situação. A história nos mostra o resultado da fragorosa humilhação imposta
pelos aliados à Alemanha, após a Primeira Grande Guerra (1914-1918): ascensão de Hitler, do
nazismo e eclosão de mais uma guerra mundial.
Outra possibilidade, já aventada por outros observadores internacionais, será o gradual desgaste de Putin, enfraquecendo seu poder e sua liderança, o que poderia levar à sua destituição ou inviabilizar sua reeleição. A pergunta, neste caso, é o quanto as elites econômicas e políticas ainda continuarão apoiando o líder em suas aventuras militares, em sua nova situação de isolamento da Europa e sua estratégia de repressão interna. Os próximos meses talvez nos tragam uma resposta, é esperar para ver. Todavia, quem não pode esperar de nenhuma maneira, é o povo da Ucrânia. Esta guerra tem que acabar o mais rápido possível.
(Imagens: pinturas medievais)
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