“Suponha
um mundo igual ao nosso, mas do qual a espécie humana tenha desaparecido. Não é
difícil imaginar que num mundo assim constituído a relação de atração entre os
corpos continuará obedecendo a lei da gravidade: a ausência do observador humano
não altera esta realidade. Mas será isso verdade no caso do engano? É duvidoso.
A orquídea e a abelha, é certo, não precisam de nós para continuar seu idílio.
Mas fará qualquer sentido atribuir a essa relação o caráter de engano em um universo em que a
humanidade deixou de existir? Falar em engano – ou, de resto, de cooperação ou
conflito aberto – é imputar a essa relação um conteúdo que faz sentido do ponto
de vista da experiência do homem, isto é, que tem cabimento para nós, humanos, mas não, ao que tudo
indica, para os que participam dela ou outros seres que habitam o planeta.”
(Giannetti, pág. 30)
Eduardo Giannetti, Auto-engano
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