Leituras diárias

segunda-feira, 18 de julho de 2022

 


“A morte deixou de ser o esquecimento de um eu vigoroso mas sem consciência ou a aceitação de um Destino formidável mas sem discernimento. Tornou-se o lugar onde as particularidades de cada vida, de cada biografia, aparecem no grande dia da consciência clara, quando tudo é pesado, contado, escrito, quando tudo pode ser mudado, perdido ou salvo. Na segunda fase da Idade Média, do século XII ao século XIV, quando foram lançadas as bases do que viria a ser a civilização moderna, um sentimento mais pessoal e mais interiorizado da morte, da própria morte, traduziu o violento apego às coisas da vida, bem como – e este é o sentido da iconografia macabra do século XIV – o gosto amargo do fracasso, confundido com a mortalidade: uma paixão de ser, uma inquietude de não ser bastante.” (Ariès, págs. 99 e 100)

 

Philippe Ariès, História da morte no Ocidente

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