“A
morte deixou de ser o esquecimento de um eu vigoroso mas sem consciência ou a
aceitação de um Destino formidável mas sem discernimento. Tornou-se o lugar
onde as particularidades de cada vida, de cada biografia, aparecem no grande
dia da consciência clara, quando tudo é pesado, contado, escrito, quando tudo
pode ser mudado, perdido ou salvo. Na segunda fase da Idade Média, do século
XII ao século XIV, quando foram lançadas as bases do que viria a ser a
civilização moderna, um sentimento mais pessoal e mais interiorizado da morte,
da própria morte, traduziu o violento apego às coisas da vida, bem como – e este
é o sentido da iconografia macabra do século XIV – o gosto amargo do fracasso,
confundido com a mortalidade: uma paixão
de ser, uma inquietude de não ser bastante.” (Ariès, págs. 99 e 100)
Philippe Ariès, História da morte no Ocidente
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