Toda
a minha biografia foi acompanhada pelos livros, desde criança quando
admirava e ouvia minha mãe com um livro na mão. Aliás, um arco importante da
minha vida passou-se entre as estantes, repletas de textos preciosos, de
uma biblioteca histórica, como a Ambrosiana de Milão, e agora posso
aceder à beleza suprema da Biblioteca do Vaticano. Nestes tempos
“invernais” em nível espiritual torna-se espontâneo para mim repetir as
palavras do Imperador Adriano criadas por Marguerite Yourcenar.
Em anos em que o número de leitores parece afinar-se cada vez mais, sobretudo
entre os jovens de olhos fixos apenas na tela de um computador ou de um
celular, é necessário fazer ressoar o apelo para cuidar e aproveitar
daqueles celeiros da alma.
Mas
há mais. Segundo o historiador grego Hecateu de Abdera, no frontão da
biblioteca do faraó Ramsés II estava gravada uma definição
hieroglífica que ele traduziu da seguinte forma: Psychês iatréion,
"clínica da alma". Claro, nem todos os livros curam, como avisava um
leitor sábio, o filósofo inglês Francis Bacon: “Alguns livros são provados, outros devorados, pouquíssimos
mastigados e digeridos”. No entanto, devemos lembrar que as bibliotecas são
semelhantes a encruzilhadas onde se encontram passado e presente, realidade e
sonhos, história e esperança, consenso, dissenso, mas sobretudo senso. Talvez
tivesse razão um escritor de grande sucesso justamente com os seus
romances populares, Stephen King, quando sugeria, talvez apressadamente:
"Quando tudo mais falhar, saia e vá para a biblioteca”.
(O
comentário é do cardeal italiano Gianfranco Ravasi, ex-prefeito do Pontifício Conselho
para a Cultura, publicado por Il Sole 24 Ore, 15-10-2023. A tradução é de Luisa
Rabolini. Fonte: Revista IHU Online de 19/10/2023)
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