O
texto abaixo, de minha autoria, foi publicado em final de 2008, mas continua atual. Nesse meio
tempo ocorreram várias outras enchentes e deslizamentos de terra Brasil afora e pouca
coisa mudou também nessa área nos últimos anos - quando poderia ter mudado. Continuamos repetindo os mesmos
erros ao longo do tempo. Por que?
Os recentes acontecimentos no Estado
de Santa Catarina causaram comoção nacional. A morte trágica de mais de cem
pessoas, a destruição de bens, o desmantelamento da infraestrutura e a
degradação do meio ambiente, são acontecimentos a serem lamentados, mas dos
quais também se deve aprender, para que tais perdas possam ser evitadas no
futuro. Fenômenos climáticos ainda são inevitáveis, mas podem ser previstos com
alguma antecedência e suas consequências sobre a região podem ser atenuadas
através de diversas providências.
Por ser uma região historicamente sujeita as enchentes, o Estado deveria instalar sistemas mais sofisticados de monitoramento, cujo investimento poderia se pagar em apenas uma temporada de chuvas. Em paralelo, é preciso que os critérios do zoneamento do Estado, notadamente na região do Vale do Itajaí, sejam revistos. A ocupação das encostas dos morros, com consequente destruição da vegetação original – que na maior parte das áreas já não é mais a mata primária –, propicia condições para o desabamento de grandes extensões de terra, quando a quantidade de água no solo atinge níveis críticos. Para que os deslizamentos sejam evitados, serão necessárias grandes obras de contenção de morros.
O governo federal, através de ministérios ligados ao assunto, como o do Meio Ambiente, Ministério das Cidades, Ministério da Agricultura, Ministério dos Transportes, Ministério da Ação Social, Ministério da Ciência e Tecnologia, entre outros, poderia criar um grupo de estudos, formado por especialistas de diversas áreas, para avaliar as prováveis causas (dentro daquelas previsíveis) e consequências do desastre de Santa Catarina. Desta forma, poderiam ser identificados fatores que levariam a tais desastres e ser elaboradas medidas preventivas, que também seriam colocadas em prática em outras áreas urbanas sujeitas a enchentes e desabamentos. Os Estados, através de suas defesas civis, já dispõem de muitas informações sobre o tema e conhecem práticas de prevenção de acidentes. No entanto, a complexidade do assunto requer um numero de informações cada vez maiores.
Outro aspecto que ainda precisa ser considerado nas enchentes de Santa Catarina é o das mudanças climáticas, provocadas pelo aquecimento global. Segundo os especialistas, é provável que o fenômeno ocorrido em Santa Catarina esteja relacionado ao assunto, mas ainda não existe certeza científica. No entanto, é preciso já estar preparado para se lidar com eventos como este no futuro, já que enchentes, secas, ondas de frio e de calor serão cada vez mais comuns. Segundo o Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), nos últimos dez anos ocorreu um aumento na intensidade das secas e das chuvas na região Sul, comparado a um período anterior de 50 anos de observação. O aumento das chuvas e das secas, segundo os cientistas, são indícios de que o planeta está se aquecendo.
O país precisa se preparar para as mudanças climáticas que estão alterando o clima da Terra. Tais mudanças provocarão extremos de temperatura – das mais baixas para as mais altas – e de precipitações pluviométricas – chuvas fortíssimas e longos períodos de estiagem. Quanto melhor estivermos preparados para enfrentarmos tais fenômenos climáticos, mais poderemos evitar prejuízos materiais e perdas de vidas humanas.
(Imagens: pinturas de Christian Damerius)
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