“E
já agora está o tempo sem forças, já a terra cansada mal cria os animais
pequenos, ela que criou todas as espécies, e produziu, gerando-os, os corpos
enormes dos animais bravios. Realmente, creio que as espécies mortais não
desceram de lá de cima do céu, por meio de cordas, a campos de ouro, nem as
criaram o mar e as ondas que batem nos rochedos: gerou-as a própria terra, que
as alimenta agora com seu corpo.
Além
de tudo, foi ela quem primeiro, espontaneamente, criou para os mortais as
luzentes searas e os vinhedos pingues, foi ela quem produziu os frutos
saborosos e os abundantes pastos: e tudo isto cresce mal, apesar dos nossos
trabalhos, em que esgotamos os bois e as forças dos lavradores. Gastamos o
ferro, e o campo mal recompensa, tanto é avaro dos frutos, tão grande é o
esforço que ele exige.
Já,
abanando a cabeça, suspira mais frequentemente o lavrador de idade, ao ver que
foi em vão todo o seu grande trabalho; e, ao comparar os tempos presentes com
os tempos passados, louva muitas vezes a sorte de seu pai.
Do
mesmo modo, o triste plantador de uma vinha hoje velha e enfezada acusa a ação
do tempo, queixa-se repetidamente da sua geração e resmunga que os homens
antigos, cheios de piedade, passavam uma vida fácil em um pequeno campo, quando
era menor a quantidade de terra que cabia a cada um: e não vê que tudo se
enfraquece a pouco e pouco e se dirige para o esquife, fatigado pelo decrépito
tempo da idade.” (Lucrécio, pág. 61 – versos 1150 a 1170)
Lucrécio, Da Natureza
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