Leituras diárias

segunda-feira, 2 de outubro de 2023



“E já agora está o tempo sem forças, já a terra cansada mal cria os animais pequenos, ela que criou todas as espécies, e produziu, gerando-os, os corpos enormes dos animais bravios. Realmente, creio que as espécies mortais não desceram de lá de cima do céu, por meio de cordas, a campos de ouro, nem as criaram o mar e as ondas que batem nos rochedos: gerou-as a própria terra, que as alimenta agora com seu corpo.

Além de tudo, foi ela quem primeiro, espontaneamente, criou para os mortais as luzentes searas e os vinhedos pingues, foi ela quem produziu os frutos saborosos e os abundantes pastos: e tudo isto cresce mal, apesar dos nossos trabalhos, em que esgotamos os bois e as forças dos lavradores. Gastamos o ferro, e o campo mal recompensa, tanto é avaro dos frutos, tão grande é o esforço que ele exige.

Já, abanando a cabeça, suspira mais frequentemente o lavrador de idade, ao ver que foi em vão todo o seu grande trabalho; e, ao comparar os tempos presentes com os tempos passados, louva muitas vezes a sorte de seu pai.

Do mesmo modo, o triste plantador de uma vinha hoje velha e enfezada acusa a ação do tempo, queixa-se repetidamente da sua geração e resmunga que os homens antigos, cheios de piedade, passavam uma vida fácil em um pequeno campo, quando era menor a quantidade de terra que cabia a cada um: e não vê que tudo se enfraquece a pouco e pouco e se dirige para o esquife, fatigado pelo decrépito tempo da idade.” (Lucrécio, pág. 61 – versos 1150 a 1170)

 

Lucrécio, Da Natureza 

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