“Trazendo
a questão ao Brasil, numa tentativa de iluminar o debate sobre religião e
política na América Latina, fica claro que pobres evangélicos pentecostais
tendem a não votar em candidatos com propostas redistributivas. Em grande
medida, isso pode ser explicado pelo eficiente trabalho de mobilização
realizado por pastores e lideranças religiosas nas igrejas pentecostais.
Concentrados nas áreas pobres urbanas, seus fiéis tendem a ser menos
escolarizados, menos informados e mais conservadores do que os eleitores
católicos, que constituem o núcleo de apoio dos candidatos com propostas
redistributivas nas disputas presidenciais brasileiras. É um comportamento mais
consistente que o dos evangélicos históricos, sendo a rejeição deste último
grupo aos candidatos de esquerda consideravelmente menor na comparação com seus
pares pentecostais.” (Araújo, pág. 81).
“Mesmo
sendo o Brasil um país com uma altíssima desigualdade de renda, os incentivos
para que os políticos eleitos enfrentem esse problema tendem a ser cada vez menores. Em um contexto onde a maioria dos eleitores se orienta por temas e discussões
morais, plataformas eleitorais que enfatizem o papel do Estado como agente
promotor de desenvolvimento e indutor de gastos sociais tenderão a atrair uma
parcela cada vez menor do eleitorado de baixa renda. Com o avanço acelerado da
transição religiosa, o futuro do Brasil deverá ser de mais desigualdade e
menos pressão por redistribuição de renda.” (Araújo, pág. 87).
Victor Araújo, A religião distrai os pobres? : O voto econômico de joelhos para a moral e os bons costumes
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