Outras leituras

segunda-feira, 23 de setembro de 2024


 

“Deste modo, com maior ou menor grau de dependência, a economia que se cria nos países latino-americanos, ao longo do século XIX e nas primeiras décadas do seguinte, é uma economia exportadora, especializada na produção de alguns poucos bens primários. Uma parte variável da mais-valia que aqui se produz é drenada para as economias centrais, pela estrutura de preços vigente no mercado mundial, pelas práticas financeiras impostas por essas economias, ou pela da ação direta dos investidores estrangeiros no campo da produção. As classes dominantes locais tratam de se ressarcir desta perda aumentando o valor absoluto da mais-valia criada pelos trabalhadores agrícolas ou mineiros, submetendo-os a um processo de superexploração. A superexploração do trabalho constitui, portanto, o princípio fundamental da economia subdesenvolvida, com tudo que isso implica em matéria de baixos salários, falta de oportunidades de emprego, analfabetismo, subnutrição e repressão policial.” (Marini, págs. 48 e 49)

 

“A crise mundial de 1929 atuou grandemente nesse sentido. Impossibilitado de colocar sua produção no mercado internacional e sofrendo o efeito de uma demanda por bens manufaturados que já não podia ser satisfeita com importações, o país acelera a substituição de importações de bens manufaturados, desenvolvendo um processo que parte da indústria leve e chega, por volta dos anos 1940, à indústria de base. São fundamentalmente a crise da economia cafeeira e a pressão da nova classe industrial para participar do poder, os fatores que produzem o movimento revolucionário de 1930, que obriga a velha oligarquia latifundiária a romper seu monopólio político e instala no poder a equipe revolucionária encabeçada por Getúlio Vargas.” (Marini, pág. 131)

 

Rui Mauro Marini (1932-1997), sociólogo e economista brasileiro em Subdesenvolvimento e Revolução

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