“Deste
modo, com maior ou menor grau de dependência, a economia que se cria nos países
latino-americanos, ao longo do século XIX e nas primeiras décadas do seguinte,
é uma economia exportadora, especializada na produção de alguns poucos bens
primários. Uma parte variável da mais-valia que aqui se produz é drenada para
as economias centrais, pela estrutura de preços vigente no mercado mundial,
pelas práticas financeiras impostas por essas economias, ou pela da ação direta
dos investidores estrangeiros no campo da produção. As classes dominantes
locais tratam de se ressarcir desta perda aumentando o valor absoluto da mais-valia
criada pelos trabalhadores agrícolas ou mineiros, submetendo-os a um processo
de superexploração. A superexploração do trabalho constitui, portanto, o
princípio fundamental da economia subdesenvolvida, com tudo que isso implica em
matéria de baixos salários, falta de oportunidades de emprego, analfabetismo,
subnutrição e repressão policial.” (Marini, págs. 48 e 49)
“A
crise mundial de 1929 atuou grandemente nesse sentido. Impossibilitado de
colocar sua produção no mercado internacional e sofrendo o efeito de uma
demanda por bens manufaturados que já não podia ser satisfeita com importações,
o país acelera a substituição de importações de bens manufaturados,
desenvolvendo um processo que parte da indústria leve e chega, por volta dos
anos 1940, à indústria de base. São fundamentalmente a crise da economia
cafeeira e a pressão da nova classe industrial para participar do poder, os
fatores que produzem o movimento revolucionário de 1930, que obriga a velha
oligarquia latifundiária a romper seu monopólio político e instala no poder a
equipe revolucionária encabeçada por Getúlio Vargas.” (Marini, pág. 131)
Rui Mauro Marini (1932-1997), sociólogo e economista brasileiro em Subdesenvolvimento e Revolução
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