Outras leituras

segunda-feira, 16 de setembro de 2024


“A crescente financeirização do capital tem produzido ainda outro efeito nefasto no desigual e combinado desenvolvimento econômico: o descolamento entre o capital entesourado no sistema financeiro e o mundo da produção, para onde não mais tem retornado como reinvestimento, o que afeta decisivamente o volume da circulação comercial e faz decrescer o poder de consumo. O capital especulativo, posto a reproduzir-se sem mais o lastro do trabalho, tem surtido o efeito funesto do desemprego de força de trabalho no mundo da produção.

É nestes termos que se dá a crise do capitalismo internacional que ora atravessamos, costumeiramente localizada pelo discurso jornalístico e pelas school business anglo-americanas a partir do final do ano de 2007, como crise dos subprimes, mas cuja origem remonta à ladeira histórica iniciada nos anos 1970 e seguida por consecutivos períodos de relativa estabilidade econômica acompanhados de novos declives, sem que fossem recompostas as anteriores taxas médias de lucro.

Mas até que a crise estrutural do capitalismo alcance a condição de caos sistêmico, no ocaso do atual ciclo de acumulação, mudam os atores a quem compete a consecução de agendas que pretendem a recomposição das taxas de lucro das classes proprietárias, por sobre as quais se impõem os interesses do rentismo, quando os instrumentos políticos convencionais deixam de mostrar-se eficientes à necessária destruição de direitos sociais. Ou seja, o agravamento da crise capitalista cria as condições para o recrudescimento do autoritarismo político no mundo.”

 

Osvaldo Coggiola e Rodrigo Zagni Medina, Quando irrompem os monstros: a crise do capital e novas direitas

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