A energia do biogás

domingo, 6 de maio de 2012
"Na verdade, uma das poucas diferenças sérias entre as ciências naturais e as humanas é que muitos pensadores nas ciências humanas decidiram que os pós-modernos têm razão: tudo são só histórias e toda a verdade é relativa."  -  Daniel C. Dennett  - Quebrando o encanto
 
O biogás é um combustível de origem orgânica, formado a partir da ação de bactérias sobre substâncias vivas – vegetais, dejetos orgânicos, corpos em decomposição, etc. Composto basicamente por metano (CH4), é muito danoso à atmosfera, por ser um gás causador do efeito estufa (aquecimento da atmosfera) com intensidade superior ao dióxido de carbono (CO2), emitido na queima de combustíveis. Também conhecido como “gás do pântano”, é altamente inflamável e por isso também usado como combustível. Seu aproveitamento, no entanto, só é possível em locais onde existe grande quantidade de matéria orgânica em decomposição, como nos aterros sanitários, locais onde são jogados dejetos de animais (gado, galinhas e porcos) ou grandes amontoados de resíduos vegetais em decomposição.
A prática da extração de energia do biogás ainda é relativamente recente no Brasil, mas diversas técnicas já estão sendo desenvolvidas. Uma das práticas é a utilização do metano resultante da decomposição do lixo orgânico, nos aterros sanitários. O gás é captado através de tubulações subterrâneas e bombeado para motores de unidades geradoras de eletricidade. Somente na cidade de São Paulo existem duas instalações deste tipo em funcionamento. Uma delas no aterro Bandeirantes, gerando cerca de 20 Megawatts (MW); energia suficiente para abastecer cerca de 160 mil casas. A outra, no aterro São João, gerando 25 MW e capaz de suprir eletricidade para 199 mil casas. Mais usinas estão em construção por todo o Brasil, gerando energia renovável e contribuindo para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.  
Outra tecnologia em implantação – principalmente em regiões onde existe a suinocultura – é o aproveitamento do biogás exalado dos dejetos dos porcos. Estes resíduos, produzidos em grande quantidade, precisam ser tratados antes de serem dispostos na natureza. Armazenados temporariamente em lagoas de estabilização hermeticamente fechadas, os rejeitos são consumidos por bactérias anaeróbicas (que sobrevivem sem oxigênio), que nesse processo liberam o gás metano. Este é então bombeado para um motor, que por sua vez aciona um gerador de eletricidade. O procedimento ainda é pouco usado devido aos custos de instalação, mas tende a se disseminar. 

A tecnologia do biogás também é bastante utilizada em outros países, muitas vezes partindo de outros pressupostos. Na Alemanha, por exemplo, até o final de 2009, já estavam em funcionamento 4.100 biodigestores, gerando 1.400 MW de energia – suficiente para abastecer com eletricidade cerca de 5 milhões de residências, considerando que o consumo médio de eletricidade em uma casa alemã é bem mais alto que no Brasil. O fator indutor do uso do biogás não foi, no entanto, a simples necessidade de gerar energia – esta foi conseqüência. O que levou a Alemanha a investir neste tipo de tecnologia foi a necessidade de dar uma destinação correta aos resíduos, baseado em uma legislação referente aos resíduos sólidos. Os outros aspectos; a geração de energia, adubo orgânico e a redução de emissões de metano, foram apenas vantagens adicionais de tal prática.

Temos aqui mais um exemplo de como uma política de resíduos sólidos pode trazer benefícios ambientais e econômicos, da destinação correta de resíduos à geração de energia. Quando a Política de Resíduos Sólidos, aprovada em 2010, começar a efetivamente ser posta em prática, muitos setores da economia brasileira receberão um impulso adicional.   
(Imagens: fotografias de Ted Croner)

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