O cerrado brasileiro é um dos mais ricos e ao mesmo tempo um
dos mais ameaçados sistemas de savanas do mundo. Segundo o Ministério do Meio
Ambiente, cerca de 50% da vegetação original deste bioma já foi desmatada. Este
percentual de destruição, a continuar o ritmo de devastação em andamento,
deverá chegar aos 70% da área original do cerrado até o ano 2050. A previsão, publicada
recentemente no jornal O Estado de São Paulo, foi divulgada pela revista
científica inglesa Journal of Land Use
Science.
O cerrado sofre um processo de ocupação desde a década de
1940 quando a atividade agrícola começou a avançar em suas bordas, no oeste do estado
de Minas Gerais, norte de São Paulo e sul Goiás. Entre os anos 1950 e 1980 a construção de
Brasília, a expansão da monocultura exportadora e a criação de gado, deram
continuidade ao impacto, derrubando a vegetação característica do cerrado. As
famosas “veredas” – brejos onde se formam bosques de palmeiras buritis -,
cenário do romance “Grande Sertão: Veredas” de Guimarães Rosa estão
desaparecendo da paisagem da região.
Notícias mais recentes informam que a cultura da
cana-de-açúcar e o eucalipto estão avançando em áreas de cerrado em Goiás e
Minas Gerais, empurrando a pecuária para a região amazônica. “O setor de álcool
diz que só planta cana em terras já devastadas, mas há um desmate indireto na
Amazônia”, declara ao jornal O Estado de São Paulo o professor Ricardo Machado,
da universidade de Brasília. Segundo este cientista especializado no Cerrado, a
região possui apenas 7,2% de sua área sob proteção. Além de diminuta, parte
desta área também está sendo cobiçada por empreendedores e governos – como o
Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba. O perímetro do parque inclui terras
nos estados da Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins e existem planos de
transformar parte da região em lagos para barragens hidrelétricas e áreas de
cultura de soja.
Na cidade goiana de Cristalina, situada a 288 quilômetros de
Goiânia e 120 de Brasília, encontra-se a formação rochosa chamada de Chapéu de
Sol, um dos símbolos do Cerrado. Trata-se de uma pedra chata, com cerca de 100
toneladas, apoiada em uma base de menos de dois metros quadrados. Na região
também se encontram outras formações rochosas cobertas com diversas gravuras
rupestres, feitas por povos que viviam na região há milhares de anos. No
entanto, mesmo neste marco natural do Cerrado a vegetação original foi
completamente substituída por plantações de eucaliptos.
As possibilidades de mudança deste preocupante quadro do
cerrado não são boas no curto e médio prazo. Acrescente-se a esta situação a
mudança do Código Florestal recentemente aprovado pelo Congresso, que entre
várias providências retrógradas dá anistia aos proprietários de terra que ilegalmente
desmataram áreas de vegetação original. A presidente Dilma ainda tem o poder de
vetar este danoso código, evitando um desastre ainda maior para o que ainda existe
dos biomas brasileiros, especialmente o Cerrado.
Resta saber, caso o Código Florestal não seja vetado pela
presidente, com que cara a delegação brasileira se apresentará na Conferência
das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio + 20, em junho
próximo. Com a preocupante situação de nossos biomas e aprovação deste esdrúxulo
marco legal, “qual é a história que vamos contar lá em casa”?
(Imagens: fotografias de Arthur Leipzig)
(Imagens: fotografias de Arthur Leipzig)
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