Atividade humana e poluição

quinta-feira, 31 de maio de 2012
"Eles haviam encontrado meios blasfemos de manter vivos seus cérebros, no mesmo corpo ou em corpos diferentes, e, evidentemente, haviam descoberto uma maneira de extrair a consciência dos mortos que eles conseguiam obter."  -  H. P. Lovecraft  -  O caso de Charles Dexter Ward

Nos últimos sessenta anos, período de grande crescimento do capitalismo, a indústria desenvolveu uma série de produtos; novas opções de consumo e possibilidade de aumento do faturamento para as empresas. Para lançar estas novidades foi necessário criar novos materiais, com propriedades específicas, feitos de substâncias ainda não disponíveis na natureza. Foi desta maneira – atendendo principalmente às novas demandas de outros segmentos industriais – que os laboratórios e a indústria química desenvolveram milhares de substâncias, para as mais diversas aplicações. Sem dúvida, seria muito difícil vivermos sem a praticidade dos diversos tipos de plásticos ou a aderência e durabilidade das tintas e colas. Nossas colheitas seriam bem mais reduzidas, se não tivéssemos os produtos químicos que combatem as pragas e sem a adubagem química. Em sua grande parte, as substâncias químicas não são encontradas na natureza, sendo o resultado de misturas de outras substâncias e elementos – carbono, hidrogênio, nitrogênio, entre outros – a temperaturas e pressões controladas, formando então novos produtos para usos específicos.
O uso indiscriminado de grande quantidade destas substâncias tem provocado diversos acidentes ambientais; contaminação de solos, águas e alimentos. Muitos destes produtos, no entanto, produzem um outro tipo de poluição: reagindo com a membrana celular, fazem com que esta morra, se multiplique sem controle ou produza proteínas de maneira errada, podendo causar alterações em todo o organismo. As substâncias químicas chamadas ftalatos e bisfenol A (BFA), por exemplo, usadas na fabricação de plásticos, podem prejudicar o desenvolvimento dos fetos e causar infertilidade, segundo trabalhos conduzidos no Instituto de Biociências da UNESP, em Botucatu. A conclusão do estudo é particularmente preocupante, já que segundo a publicação UnespCiência de março de 2010, o BFA e os ftalatos estão presentes em brinquedos, chupetas, mordedores e mamadeiras. A partir de 2012 a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) proibiu a fabricação de bicos de mamadeiras contendo BFA. O problema é sério, e em países desenvolvidos a quantidade de uso dos ftalatos já está limitada. No Brasil, a portaria 369/2007 do INMETRO estipula que estas substâncias não podem ultrapassar 0,1% da composição dos brinquedos feitos à base de PVC, enquanto que o comum é que se encontrassem quantidades de até 60%. Já o BFA é componente essencial do policarbonato, outro tipo de plástico. Nos Estados Unidos e na Europa a substância é tema de intenso debate e de, segundo especialistas, ser um dos próximos produtos químicos a ser banido mundialmente. A proibição do uso dos ftalatos e do BFA em produtos infantis reduzirá a exposição das crianças a substâncias. O problema, no entanto, não acaba por aí, já que ambos também estão presentes em garrafas PET, cosméticos, produtos para limpeza, embalagens de alimentos, além de produtos farmacêuticos, médicos e odontológicos.
Os produtos químicos são desenvolvidos para determinados fins e muitas vezes apresentam efeitos colaterais – assim como qualquer outro produto. Se, por um lado, baseado no princípio de precaução é preciso controlar e testar estes materiais, por outro não se deve jogar fora a criança junto com a água de lavagem, vendo em qualquer novo produto somente mais uma fonte de doenças e poluição.
(Imagens: fotografias de John Guttman)

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