As bactérias são os organismos vivos mais antigos, tendo surgido
há aproximadamente 3,8 bilhões de anos. Possuem a maior variedade de espécies e
maior quantidade de indivíduos sobre a Terra. Estes pequenos organismos, além
de serem causadores de moléstias como o tétano, a tuberculose, o tifo, a
pneumonia entre outras, também são o responsáveis pela fermentação da farinha,
do vinho, pela degradação de resíduos orgânicos, pelo processo de fixação de
carbono nos oceanos.
Um estudo realizado em 2006 já havia feito algumas
descobertas importantes com relação às bactérias que habitam a Mata Atlântica.
A pesquisa demonstrou que as plantas desta floresta possuem uma grande
diversidade de bactérias e que cada espécie de árvore dispõe de sua comunidade
distinta e única, formada por centenas de espécies de bactérias. Agora, um novo
programa de pesquisa coordenado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz (ESALQ) vem fazendo uma série de novas descobertas sobre a interação das
árvores da floresta e as bactérias. Segundo artigo publicado na versão
eletrônica do boletim informativo Agência FAPESP, as bactérias que habitam uma
espécie de árvore são diferentes das que habitam outras. Cada parte da planta
tem uma comunidade específica destes microorganismos; na folha, na casca ou na
raiz, as bactérias não se repetem. Somente nas folhas das plantas, foram
encontradas de 30 a
600 espécies bacterianas distintas, dependendo da espécie vegetal. “Se
computarmos a totalidade dessa diversidade, concluímos que cada espécie de
planta pode ter mais de 2 mil espécies de bactérias associadas. Uma diversidade
gigantesca sobre a qual não conhecemos praticamente nada”, diz Márcio Rodrigues
Lambais, professor do Departamento de Ciência do Solo da ESALQ e coordenador do
programa de pesquisa.
O estudo também descobriu que comparativamente o tipo de
bactéria que vive em plantas cultivadas é bem diferente daquelas que vivem em
vegetais das florestas. As bactérias associadas a plantas cultivadas são adaptadas
a viver em um ciclo de vida mais rápido e sob outras condições de solo,
temperatura, umidade e insolação. No entanto, como as bactérias variam de
acordo com a espécie de vegetal, uma área cultivada tem necessariamente menos
espécies de bactérias do que a floresta. Assim, em dez hectares cultivados com
cana-de-açúcar vivem 50 bactérias associadas à cultura; ao passo que na
floresta, onde vivem 200 espécies de vegetais por hectare, existem dez mil
espécies de bactérias.
Ainda restam muitas dúvidas sobre o papel das bactérias nos
ecossistemas da Mata Atlântica. Um das funções do microorganismo, segundo os
cientistas, é a fixação de nitrogênio, elemento essencial para o crescimento do
vegetal e não disponível no solo da floresta. Algumas destas bactérias também
possuem a capacidade de produzir substâncias antibióticas, o que talvez seja
uma explicação porque as árvores da floresta raramente ficam doentes, ao
contrário das plantas cultivadas.
Ainda há muito por pesquisar no rico bioma da Mata
Atlântica. Estudos como estes podem nos trazer novas respostas, úteis na
medicina, na agricultura, na biologia e em diversas outras áreas do
conhecimento humano. Por isso é importante conservar o que ainda resta da Mata
Atlântica, que correrá maior risco com a mudança do Código Florestal
Brasileiro.
(Imagens: fotografias de Erich Hartmann)
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