"Diferentes de filósofos em outras partes, focados na divindade e no mundo natural, os pensadores gregos refletiam sobre o papel dos cidadãos em garantir a saúde da koinonia, ou comunidade. Os cidadãos, observou Aristóteles, eram como tripulantes no convés de um navio. Seu dever era assegurar a preservação do navio em sua viagem." - Joel Kotkin - A cidade - Uma história global
Se tanto é falado sobre a proteção ao meio ambiente e em uma
economia mais eficiente e menos exploradora dos recursos naturais, por que ainda
temos tantos problemas? Por que motivos as grandes cidades da maioria dos
países pobres e em desenvolvimento continuam com mau gerenciamento de seus
resíduos, sem tratamento de parte de seus efluentes e com trânsito caótico? Se
existem, aparentemente, tantas leis ambientais como ocorre que a poluição
continue tão presente? São perguntas que todos nos fazemos, ainda mais neste
período que coincide com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.
Com a Rio+20
a questão da sustentabilidade parece estar no ar; na
internet, nos jornais, na TV e no rádio. Em todos os lugares vemos matérias
sobre o quanto o meio ambiente está sendo agredido. O desperdício da água, em
um mundo no qual as mudanças climáticas deverão tornar o recurso cada vez mais
raro, onde já é escasso. A contaminação do solo por resíduos industriais,
comerciais e pelos agrotóxicos. A sobrepesca dos mares; a destruição de biomas
para dar lugar à agricultura, às obras de infraestrutura e ao crescimento das
cidades. Enfim, uma longa lista de fenômenos, acidentes e desgraças que em
parte já nos afligem (sem que o percebamos) e que se tornarão cada vez mais
agudos no futuro próximo.
Mas nem tudo parece ser prenúncio de fim de mundo. Ao mesmo
tempo em que tomamos conhecimento de todos estes aspectos negativos com relação
ao meio ambiente, vemos também fatos positivos. Uso de energias renováveis,
menos poluentes, tendo como fonte o sol, o vento, matérias orgânicas em
decomposição ou vegetais – como o etanol feito de cana-de-açúcar. Muitas
empresas estão valorizando os recursos naturais e matérias primas usadas em
seus processos produtivos, aumentando a eficiência da fabricação, das máquinas
e dos produtos. Cresce em todo o mundo a conscientização de que precisamos proteger
o meio ambiente e as pessoas; a própria realização da Rio+20 é sinal de que
indivíduos, empresas e países estão se reunindo para discutir e colocar em
prática soluções.
Mas se é assim, porque não existem perspectivas concretas
para dar solução à questão da sustentabilidade? Para esta pergunta não existe
uma resposta única, já que o assunto é complexo e tem diversos aspectos. Cabe
considerar, por exemplo, que um aspecto é a declaração pública de líderes de
países, presidentes de empresas e representantes de órgãos públicos e outra
coisa são suas ações na prática. As intenções dos países ricos em ajudarem as
nações pobres com problemas ambientais e sociais, são repetidas a cada fórum
internacional. Grandes empresas gostam de anunciar novas iniciativas ambientais
e sociais e a administração pública sempre fala sobre grandes projetos. No final,
são poucos os recursos destinados para os fins anunciados – muitas vezes as
campanhas publicitárias são mais caras que os projetos.
Assim, cabe bastante ceticismo em relação a tais anúncios,
já sabendo que grande parte – por diversas razões, não somente as financeiras –
nunca se concretizará. Cria-se uma grande expectativa de mudança, de avanço, e
ficamos assim, esperando muito e tendo que nos contentar com o possível. E la nave va.
(Imagens: fotografias de Berenice Abbott)
0 comments:
Postar um comentário