Às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a RIO + 20, ainda pairam muitas dúvidas sobre o
que será debatido no evento e os resultados do encontro para o futuro.
Falta um
consenso sobre os temas a serem discutidos e negociados entre os participantes.
Se, por um lado, o enfoque principal é sobre a economia verde – o uso eficiente
de recursos –, as discussões também deverão incluir o debate sobre a questão
social. Nesse aspecto, parece estar havendo uma queda de braços entre grupos
representados principalmente pelos países ricos, favoráveis a limitar as
discussões apenas às questões do uso dos recursos, e entre outra corrente,
lideradas pelo Brasil, que pretende incluir o tema social nas discussões.
Além deste antagonismo entre as duas visões da economia
verde, ainda existem outros fatores influenciando todo o ambiente que precede a
RIO + 20. A
economia mundial está sendo afetada por problemas financeiros globais que tiveram
sua origem na crise dos subprimes americanos
em 2008, atingindo especialmente a economia americana e européia, que parecem
despencar para uma recessão que levará anos para passar. Nesta situação será
difícil fazer com que os países dêem grande importância a um evento que
pretende implantar uma economia mais eficiente e menos poluidora; o que implica
em investimentos adicionais em tecnologias – coisa que estes países não
pretendem fazer, pelo menos por enquanto. Antes de pensar em gastos, mesmo que
para reduzir os impactos ambientais, a prioridade é sair da crise.
Do lado dos países pobres a situação ainda é mais premente.
Segundo o economista Ladislau Dowbor, existe um bilhão de pessoas passando fome
no mundo, das quais 180 milhões são crianças. A cada dia morrem cerca de 30 mil
pessoas de inanição, ou por problemas causados pela falta de água limpa para
consumo. Falta de tratamento de esgoto; contaminação das águas de rios e do
lençol freático por resíduos domésticos, industriais e agrotóxicos; poluição
atmosférica; são mais problemas que afetam outras centenas de milhões de
pessoas na China, Índia, Paquistão, Indonésia e Brasil, entre outros países em
desenvolvimento.
Não há, contudo, como evitar as discussões e chegar a um
denominador comum entre as nações. Porque, se de um lado há uma grave crise
econômica afetando sociedades com relativo bem estar, de outro lado os países
pobres e em desenvolvimento – supridores de matérias primas e de mão de obra
barata – continuam enfrentando as mesmas dificuldades pelas quais passam há
décadas. Não é possível que devido a uma crise econômica passageira, provocada
essencialmente pela especulação financeira que beneficiou pessoas e empresas
dos países ricos, as discussões a serem realizadas na RIO + 20 sejam
prejudicadas. Não há mais tempo para que os países mais ricos – incluindo aí o
Brasil – se esquivem de assumir compromissos na área ambiental e social.
O Brasil, aliás, tem a pretensão de assumir uma posição de
liderança durante os debates que deverão ocorrer. Para isso, no entanto,
deveria ser capaz de dar mostras de êxitos alcançados. A pergunta que fica é se
depois da desastrosa votação do Código Florestal; da baixa taxa de saneamento
básico nas cidades; da matança indiscriminada dos botos na Amazônia; do consumo
exagerado de agrotóxicos; e do alto consumo de combustível de nossos veículos, entre
outros fatos, o Brasil ainda tem condições de se tornar exemplo para o mundo,
como pretendem alguns.
(Imagens: fotografias de Shisei Kuwabara)
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