"Valorize as tuas palavras. Cada uma pode ser a última." "Para Deus o que é de Deus e para César o que é de César. Para os humanos - o quê?" - Stanislaw J. Lec - Pensamentos descuidados
(publicado originalmente no livro "Das Renováveis à Eficiência Energética)
Quanto
mais desenvolvida materialmente uma sociedade, maior sua necessidade de
energia. Por isso, a história das sociedades humanas sempre foi, sob certos
aspectos, a luta pelo alimento e pelas fontes de energia. Toda tecnologia criada
pela humanidade nos últimos cinco mil anos, desde as tabuinhas babilônicas de escrita
cuneiforme até os nossos processadores de computadores, precisou de algum tipo
de energia para ser produzida e operada.
Nos
últimos trezentos anos o desenvolvimento tecnológico deu um avanço muito
grande. Fruto de fatores econômicos, sociais e tecnológicos, surge no final do
século XVIII um sistema econômico que criará grandes demandas tecnológicas: o
capitalismo. Novos sistemas de produção, maiores e diversificados, propiciam o
aparecimento de novos tipos de máquinas e fontes de energia – o carvão mineral,
o petróleo, a eletricidade, a energia nuclear, entre as mais utilizadas. A
diversificação do sistema de produção capitalista faz com que tanto para a
produção quanto consumo a energia seja essencial, grande parte dela gerada por
combustíveis poluentes e não-renováveis.
Na
segunda metade do século XX, cientistas, empresários e estadistas se dão conta
de não ser mais possível manter indefinidamente o crescimento da economia
capitalista, baseada na tecnologia em utilização até então. Diversos fóruns
realizados ao longo dos anos 1970 e 1980 debatiam os seguintes aspectos da
crise:
-
Caminhava-se para uma escassez de recursos – água, solos agricultáveis,
oceanos, metais – que tendiam a diminuir cada vez mais. Pela primeira vez na
história os agentes econômicos haviam se dado conta de que os insumos de seus
processos produtivos – os recursos naturais – não eram inesgotáveis. Os
primeiros alarmes foram dados pelo Clube de Roma (1968) e pela Conferência de
Estocolmo (1972);
-
A disponibilidade de energia, em grande parte baseada no petróleo e seus
derivados, era outro problema de um futuro próximo. As seguidas crises do
petróleo (1973, 1979) haviam tornado o quadro mais preocupante ainda. Os países
da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) agora ditavam o preço
da principal fonte de energia do capitalismo;
-
A energia nuclear, junto com o carvão mineral, eram as principais fontes de
geração de energia e calor nos países do hemisfério Norte. No entanto, dois
acontecimentos nos anos 1980 afetaram fortemente a confiança nestas energias.
Com relação à energia nuclear, ocorre em 1986 o acidente com o reator em
Chernobyl, fato que abalou seriamente a confiança na segurança deste tipo de
geração de energia. Com relação ao carvão mineral, descobriu-se que sua queima -
assim como de todos os combustíveis não renováveis - liberava gases, que provocavam alterações na
atmosfera e no clima; os gases de efeito estufa (Greenhouse gases, GHG), causadores
das mudanças climáticas.
Neste
contexto a Alemanha, especificamente, não estava em uma situação confortável. Altamente
industrializada desde a segunda metade do século XIX, teve seu parque
industrial e infraestrutura destruídos durante a 2ª Grande Guerra. Anos depois,
reconstruída e dispondo de instalações industriais com processos produtivos
modernos, o país estava em pleno crescimento econômico a partir dos anos 1960.
Toda esta atividade econômica implicava o uso intenso de energia, que na
economia alemã se baseava em três fontes principais: a energia do petróleo, do
carvão mineral e de usinas nucleares.
O
movimento ambientalista alemão havia adquirido muita força a partir do final
dos anos 1960 e em 1980 fundou um partido para representá-lo no parlamento: o
Partido Verde. Por outro lado, influenciado pela opinião pública e pelas
diversas conferências internacionais, ao longo dos anos 1970 e 1980 o governo
alemão aprovou várias leis e implantou diversos programas ambientais
relacionados com a questão dos resíduos, dos efluentes, das áreas contaminadas e
das emissões atmosféricas.
A
Alemanha se tornou assim o primeiro país a introduzir uma política energética
baseada na substituição das energias não-renováveis e da energia nuclear – esta
última com prazo de desativação até 2021. O Erneuerbare-Energie-Gesetz,
a “Lei da Energia Renovável”, data de 2000 e nos últimos doze anos já alcançou índices
importantes. Com referência à capacidade instalada ao longo dos anos, temos os
seguintes dados do ministério do Meio Ambiente da Alemanha:
Capacidade instalada em MW (Megawatt)
1990 2000 2011
Hidrelétrica: 3.429 3.538 4.401
Eólica: 55 6.097 29.075
Biomassa: 85 579 5.479
Fotovoltaica: 0,6
76 24.820
Com
a lei, até 2011 a
Alemanha chegou a gerar 20% de sua energia elétrica a partir de fontes
renováveis – e os investimentos continuam aumentando anualmente.
Em
recente matéria veiculada na internet, ex-ministros do meio ambiente e
políticos da Alemanha comentaram alguns aspectos da estratégia alemã com
relação às energias renováveis. Dentre alguns objetivos da iniciativa foram
apontados:
-
O objetivo de diminuir a dependência da Alemanha de importação de energia; o petróleo
dos países árabes e gás da Rússia;
-
A intenção de atender às exigências do Protocolo de Kyoto, no que se refere à
redução de emissões de gases de efeito estufa;
-
A preocupação em incentivar a formação de um novo tipo de indústria, com
domínio de uma nova tecnologia, voltada à geração de energia renovável e não-poluente;
-
O objetivo de competir com estas novas tecnologias no mercado internacional e
gerar novos postos de trabalho no mercado alemão (estima-se que em 2012 o setor
estará empregando cerca de 350 mil pessoas);
-
Incentivar a geração descentralizada de energia.
Grande
parte do programa alemão de energias renováveis não teria sido possível sem a
criação de mecanismos, garantindo a compra da energia gerada com a
possibilidade de inseri-la na rede elétrica (Einspeisegesetz) e o financiamento de equipamentos para todos os
interessados em aderir ao programa.
(imagens: fotografias de Edward Weston))
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