"Encontramos aqui a grande função que a mente possui na escola (filosófica) de Nagarjuna, assim como em todas as escolas Mahayana: a realidade empírica é somente uma série de sucessivas ilusões, de imaginações, de idéias, que nossa mente cria incessantemente acima do infinito abismo do vazio universal." - Fernando Tola e Carmen Dragonetti - Sobre o vazio - um estudo sobre o niilismo budista
Em vários artigos publicados nesta coluna vimos tratando das condições das grandes cidades, situadas em países pobres e em desenvolvimento: expansão urbana fora de controle; alto impacto aos recursos naturais como ar, água e solo; e pouca oferta de serviços públicos. O mais grave problema, o entanto, é a falta de um planejamento regular, a ausência de políticas públicas que possam imprimir uma direção ordenada e controlada ao crescimento destas cidades.

Passou um longo tempo e o primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de São Paulo foi elaborado, em 1971, durante a administração Figueiredo Ferraz. O primeiro zoneamento urbano da cidade data de 1972, quando a cidade já ultrapassava os 6 milhões de habitantes. O Plano Diretor Estratégico do município só foi aprovado em 2002, durante a administração Marta Suplicy, tendo sido revisto em 2009. Percebe-se por mais este exemplo que planejamento nunca foi item de grande importância na administração pública brasileira. E o problema continua, mesmo com as administrações municipais de grandes cidades podendo contar com sofisticados mapas do município feitos por satélites, sistemas computacionais e modernos softwares para fazer diversos tipos de simulações.
O exemplo mais recente de falta de planejamento – além dos inúmeros casos com os quais deparamos a cada dia – é o caso da verticalização de diversos bairros da capital. Segundo declaração da urbanista Lucila Lacreta, da ONG Defenda São Paulo, publicada recentemente no jornal O Estado de São Paulo, a Prefeitura está aprovando uma série de empreendimentos e não vem levando em conta os impactos cumulativos destes. Ainda segundo a urbanista, a Secretaria da Habitação aprova determinados projetos e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) outros. Todavia, não existe uma análise mais ampla do impacto destas iniciativas, assim como o planejamento do transporte público, com trens, ônibus e metrô, é esquecido.
O avanço dos projetos imobiliários em várias regiões da cidade está priorizando o transporte individual, o que deverá aumentar ainda mais os congestionamentos nestas regiões e com impactos no resto da cidade. Somente na Marginal do Rio Pinheiros, a construção de doze novos grandes empreendimentos deverá levar cerca de 50 mil veículos a mais para a região. Assim, apesar de toda a tecnologia disponível, o planejamento urbano continua sendo um dos grandes problemas de São Paulo. Por que por aqui é tudo tão difícil?
(Imagens: fotografias de Thomas Struth)
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