Não faltaram esforços para transformar a Rio+20 em uma
grande vitrine; um grande show pirotécnico durante o qual países e empresas
tentaram impressionar, de alguma forma, a opinião pública local e mundial.
Muita propaganda, projetos, promessas e propostas, mas nada de palpável. Têm
razão as ONGs que criticaram o evento, dizendo que os resultados foram quase
nulos. No final, foi redigido um documento consensual, no qual “as nações se
comprometem a...” e onde “serão feitos esforços que visem o aprimoramento de...”
e se farão “estudos que permitirão identificar demandas de...”. Enfim, acaba
assim mais uma Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável
e não se estabeleceram quaisquer objetivos e metas concretos.
Terminada assim a festa, cada um volta para sua casa e vai
enfrentar as dificuldades do dia a dia. Por aqui também voltamos a encarar os
mesmos problemas, que apesar de toda a propaganda não desapareceram. Permanece
o fato, por exemplo, de que ainda temos muitas dificuldades em garantir o
acesso à água potável para toda a população – cerca de 20% dos brasileiros
ainda não têm água tratada. Nas tubulações ainda se perde em média 30% a 40% do
precioso líquido, devido a vazamentos e ligações clandestinas. Testes de
qualidade da água tratada, realizados em diversas regiões do país pela Agência
Nacional da Água (ANA) com o apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), mostram que 47% das águas urbanas têm qualidade péssima ou ruim. Segundo
a própria ANA, a baixa qualidade das águas é causada pela contaminação dos
recursos hídricos com esgoto doméstico.
As
metas do milênio acordadas por todos os países membros da ONU em 2000 prevêem, por
exemplo, a redução em 50% do déficit de saneamento básico. Tudo indica que, a
continuar o atual ritmo de investimento, o Brasil será um dos países que não
alcançará este objetivo. No caso do esgoto, apenas 45% da população brasileira
possuem coleta de esgoto e somente um terço daquilo que é coletado é tratado.
Segundo o instituto Trata Brasil, dois terços do volume do esgoto das cidades
brasileiras ainda vão parar na natureza – rios, lagos e mares – sem qualquer
tipo de tratamento. Segundo o mesmo instituto, seriam necessários investimentos
de 270 bilhões de reais até 2030 – 15 bilhões por ano – somente para atender à
população com água tratada e esgoto. Dadas estas condições, ainda morrem no
Brasil diariamente sete crianças, 2.100 por ano, por doenças causadas pelo
contato com águas contaminadas por esgoto.
“O processo de urbanização que ocorreu no Brasil nos últimos 50
anos não foi acompanhado pelo saneamento. A situação crítica que a gente vive
nas áreas urbanas é consequência disso”, afirma Marcelo Pires, gerente de
Estudos e Levantamento da Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos
da ANA. A afirmação permite concluir que nos últimos 50 anos nossos
administradores públicos viram o processo da urbanização em andamento, sem tomarem
medidas – estabelecendo objetivos e metas – para que a estrutura de saneamento
acompanhasse as mudanças. Atualmente, no entanto, tais omissões não podem mais ser
aceitas – principalmente para um país que acaba de sediar uma Conferência das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Sustentável.
(Imagens: fotografias de Willi Ronis)
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