"Se há vida depois da morte eu sei que, pra chegar lá, vou ter dificuldade em pegar taxi, encontrar carregador, chegar ao balcão correto de check-in - na minha frente haverá uma família com problemas de comunicação e excesso de peso, os lugares para os fumantes estão esgotados, o vôo atrasado em pelo menos duas horas e todas as cadeiras disponíveis no saguão de espera ocupadas." - Ivan Lessa - Ivan vê o mundo - Crônicas de Londres
(Ray Bradbury e Ivan Lessa in memoriam)
Faleceu no último dia 5 de junho, aos 91 anos, o escritor
americano Ray Bradbury. Autor de histórias de ficção científica e horror,
Bradbury começou sua carreira escrevendo para revistas populares de ficção
científica, no final dos anos 1930. Apesar de ter sido um divulgador do tema
durante toda a sua vida, Bradbury sempre teve uma visão crítica da ciência,
apontando seus perigos para a liberdade individual quando mal usada.
Nunca freqüentou uma universidade, mas sempre foi um grande
leitor, tendo declarado certa vez: “Me
criei com as bibliotecas. Eu não acredito em faculdades e universidades. Eu
acredito em bibliotecas porque a maioria dos estudantes não tem nenhum
dinheiro. Quando me formei do ensino médio era o tempo da Depressão e não
tínhamos dinheiro. Eu não podia ir para a faculdade, então eu fui para a
biblioteca, três dias por semana, durante dez anos.” Grande entusiasta dos livros, Bradbury liderou várias campanhas para levantar fundos a fim de evitar o fechamento de bibliotecas
públicas, no estado da Califórnia.

A vida e a obra de Ray Bradbury mostram o valor do livro na
sociedade americana, como instrumento para adquirir conhecimento e mudar a
realidade social. Nos Estados Unidos existem cerca de 122 mil bibliotecas
públicas para uma população de 312 milhões de habitantes; ou seja, uma
biblioteca para cada 2,6 mil americanos. Comparativamente, existe na Argentina
uma biblioteca para cada 17 mil habitantes; no Brasil uma para cada 33 mil
pessoas.
Ainda estamos longe de sermos uma sociedade que valoriza o
livro. O idealismo em relação à força transformadora da cultura, expressa por
Monteiro Lobato na frase “Um país se faz
com homens e livros”, foi esquecido; suplantado com o advento da televisão
de cobertura nacional. No entanto, apesar de todos os avanços tecnológicos, o
país ainda tem cerca de 15 milhões de analfabetos e 50% da população formada
por analfabetos funcionais – pessoas incapazes de compreender textos longos e
muito menos redigir uma simples carta. Mesmo os nossos universitários não têm uma
relação muito boa com os livros. Segundo pesquisa realizada em 2011, os
estudantes de cursos superiores lêem, em média, um a quatro livros ao ano (o que dá
uma média de 2,5 livros ao ano). Comparativamente, o cidadão americano médio
(não necessariamente universitário) lê 5,1 livros por ano e o chileno 5,4 livros.
Ainda vivemos em um país que pouco valoriza o conhecimento.
No melhor dos casos, existe a formação profissional, adquirida para desempenhar
uma profissão, função, ou cargo – uma profissionalização e só. Nada a ver com a cultura,
variedade de conhecimentos que proporcionam uma visão melhor do mundo e que
só podem ser adquiridos pela leitura constante.

(Imagens: fotografias de bibliotecas famosas)
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