"Há nada mais enternecedor que o princípio de uma rua? É ir vê-lo nos arrebaldes. A princípio capim, um braço a ligar duas artérias. Percorre-o sem pensar meia dúzia de criaturas. Um dia cercam à beira um lote de terreno. Surgem em seguida os alicerces de uma casa. Depois de outra e mais outra." - João do Rio - A alma encantadora das ruas
O desenvolvimento de um país se dá nos municípios, nas
cidades. No âmbito municipal o cidadão tem acesso – ou pelo menos deveria ter,
já que a Constituição garante o direito – à educação, saúde, transporte
público, cultura, lazer, entre os principais benefícios. Estes serviços, que as
prefeituras são obrigadas a oferecer a todo e qualquer cidadão brasileiro, são
custeados por recursos municipais ou, na falta destes, por verbas estaduais ou
federais. O que não pode acontecer é que verbas do caixa municipal, ou
recebidas através de repasses estaduais, sejam utilizadas pelo prefeito para
investir em obras desnecessárias ou manter uma máquina administrativa
sobrecarregada, com excesso de funcionários ou altos salários. Por isso a importância
da Lei de Responsabilidade Fiscal, oficialmente Lei Complementar no. 101, que
impõe um justificado controle das despesas de estados e municípios,
condicionando os gastos à capacidade de arrecadação de tributos.
A Lei de Responsabilidade Fiscal foi criada no governo de
Fernando Henrique Cardoso e representou uma vitória do bom senso e da justiça
na administração pública. A partir da aprovação deste marco legal foram
introduzidos diversos mecanismos de controle do executivo municipal, estadual e
até federal, que podem proporcionar uma aplicação mais democrática das verbas
públicas. Estes recursos, parece óbvio dizer, não são públicos porque são geridos
pelo setor público. São públicos porque pertencem a todos nós, o povo. Foram
gerados por nós, pelos nossos impostos, e devem ser investidos em nosso
benefício. Toda vez que um administrador está utilizando dinheiro público de
maneira indevida – em casos extremos até se apossando destes recursos – ele
está cometendo um crime contra o país. Em alguns lugares, criminosos deste tipo
são trancafiados por longos anos e condenados a devolver tudo que subtraíram –
quando não acontece coisa pior, como na China.
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
(FIRJAN) realizou recentemente uma pesquisa, mostrando a situação financeira
das 5.266 cidades brasileiras. O resultado demonstra que apesar de um lento
progresso – resultado principalmente da Lei de Responsabilidade Fiscal – ainda
duas em cada três cidades brasileiras (63,5%) vivem em situação financeira
difícil ou crítica. A pesquisa levou em consideração cinco critérios
principais: a) a capacidade de arrecadação do município; b) os gastos com
pessoal; c) capacidade de fazer investimentos; d) o custo da dívida do município
em longo prazo e) a liquidez. A pesquisa constatou que gastos com pessoal –
funcionários públicos diretos e indiretos – e a baixa arrecadação dos
municípios, ainda são os maiores problemas. No cômputo geral, as cidades brasileiras
se dividem da seguinte maneira: 94 (1,8%) estão com um conceito excelente em
gestão; 1.822 (34,8%) têm gestão classificada como boa; 2.302 (43,7%) estão
enfrentando dificuldades; e 1.048 (19,9%) têm nível de gestão crítico.
Os cidadãos de cada cidade brasileira sabem ou deveriam
saber como o prefeito está gerenciando seu município. A promessa de asfalto,
esgoto, da creche, e da nova escola profissionalizante são pendências que devem
ser cobradas. A chegada das eleições municipais é nova oportunidade de se
informar sobre o que está acontecendo no município e tentar melhorar a própria
vida através do voto consciente.
(Imagens: fotografias de Walker Evans)
(Imagens: fotografias de Walker Evans)
0 comments:
Postar um comentário