"Há dois mil e quinhentos anos se tenta fazer metafísica racional, fazer com que a metafísica seja tão rigorosa quanto as matemáticas. Isso nunca se conseguiu! Porque, intrinsecamente, a metafísica não tem a ver com esse sistema de raciocínio!" - Jean-François Revel e Matthieu Ricard - O monge e o filósofo
A Revolução Verde foi a grande mudança na agricultura
mundial nos últimos quarenta e poucos anos, que possibilitou garantir
alimentação para bilhões de pessoas. Trata-se da agricultura como a conhecemos
hoje, utilizando grandes volumes de insumos químicos, intensa mecanização,
irrigação e ocupando extensas áreas de solo fértil.
Todavia, a constante exploração do solo também acaba
cobrando o seu preço: a desertificação e a degradação ambiental já estão
afetando 20% das terras agrícolas, 30% das florestas e 10% das pastagens de
todo o mundo, segundo especialistas. De acordo com um estudo elaborado pela
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o processo
gradual de deterioração dos solos está aumentando ao invés de diminuir. Segundo
o estudo, o principal fator causador desta degradação da terra é sua má gestão.
As conseqüências imediatas da queda da qualidade do solo é a redução da
produtividade agrícola, a queda do nível do lençol freático e a necessidade de
aplicar quantidades cada vez maiores de fertilizantes. Em uma fase posterior
cai definitivamente a produtividade da terra, forçando os agricultores a
migrarem para as cidades ou para outras regiões ainda inexploradas, ainda dispondo
de cobertura vegetal original. Em suma, a degradação do solo acaba causando
além da insegurança alimentar, migrações e destruição de ecossistemas.
A população rural afetada por este fenômeno chega a quase um
bilhão de pessoas em todo o mundo. Apenas na América Latina, há mais de 500
milhões de hectares comprometidos pelo processo de desertificação, ocasionando
uma perda anual de 24 bilhões de toneladas de solo fértil, arrastadas pelas
chuvas e pelos ventos e causando o assoreamento dos rios.
Uma volta ao passado, à agricultura anterior à Revolução
Industrial, todavia, não é possível. Se na década de 1960 não tivesse sido
desenvolvida a Revolução Verde, muito provavelmente teríamos tido várias crises
de abastecimento em todo o globo. A agricultura, como vinha sendo praticada
durante milênios, não teria condições de alimentar toda a atual população
mundial. Basta lembrarmos das grandes epidemias de fome na Europa e na Ásia,
que chegavam a dizimar dezenas de milhões de pessoas.
Todavia, é possível que a agricultura seja praticada com
mais cuidado com o meio ambiente. Já existem defensivos agrícolas naturais,
elaborados à base de extratos vegetais, afetando apenas as pragas sem
contaminarem o solo e as plantas. Temos as técnicas de plantio direto, já
bastante disseminadas no Brasil, que revolvem menos a terra e assim evitam a
perda de material orgânico e a compactação do solo. Dispomos de tecnologias
para melhor aproveitamento da água na irrigação. Igualmente, muitas fazendas já
se preocupam com a manutenção de áreas com mata natural e com preservação da
mata ciliar. Enfim, são práticas que estão sendo utilizadas por agricultores
preocupados com a fertilidade do solo e com o ecossistema no qual suas
propriedades estão inseridas.
O Brasil, por seu grande potencial agrícola, deve incentivar
práticas que ajudem a preservar este valioso patrimônio de que dispomos: o solo
fértil. Este, uma vez perdido será difícil recuperar. Basta olharmos os livros
de história, onde lemos sobre as dezenas de povos e culturas que pereceram por
perderem a fertilidade de seus solos.
(Imagens: fotografias de Helen Levitt)
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