"Como diz Whitehead, a natureza é uma coisa triste, sem cores, sons nem fragâncias: todos seus atributos são puramente humanos. Radical e inevitavelmente (mas, por que evitá-lo?), nossa visão do mundo é subjetiva, e cada um de nós cria cores e músicas, grosseiras ou delicadas, complexas ou simples, conforme nossa sensibilidade, nossa imaginação e nosso talento." - Ernesto Sabato - O escritor e seus fantasmas
Os efeitos das atividades humanas sobre o meio ambiente, a
natureza, ainda tem aspectos imprevisíveis. Se nas regiões urbanas e as áreas
agrícolas, ocupadas há muito tempo pelas atividades humanas, quase não restam
vestígios dos ecossistemas naturais, mesmo assim o mundo natural continua
influenciando as modernas sociedades. Há alguns anos cientistas já vinham
alertando sobre novos tipos de vírus que o homem poderia encontrar ao avançar
sobre as últimas áreas inóspitas do planeta, como as florestas situadas em
áreas tropicais.
Segundo matéria publicada recentemente no jornal The New
York Times, grande parte das doenças que afetam os seres humanos têm causas
ambientais; 60% são de origem zoonótica, ou seja, transmitidas por animais.
Destas, mais de dois terços por animais selvagens. Exemplo disso são as
síndromes provocadas pelo vírus Ebola, pelo Oeste do Nilo, a Síndrome
Respiratória Grave (SARS), a gripe aviária H5N1, a influenza H1N1, entre
outros. São inúmeras as doenças viróticas que em têm origem nas espécies
selvagens e que sofrendo mutações passam de uma espécie a outra até chegar ao
homem.
O assunto é tão sério, que veterinários, biólogos e outros
especialistas juntaram-se a médicos e epidemiologistas para tentar descobrir
como a interação do ambiente natural com o humano pode resultar em novas
doenças epidêmicas. O estudo faz parte de um projeto batizado de
"Predict" (“prever” em inglês), financiado pela Agência dos Estados
Unidos para o Desenvolvimento Internacional. Neste estudo, os especialistas
tentam descobrir como através da alteração do ambiente – seja pela derrubada da
floresta para uma nova área agrícola ou construção de uma barragem –, colocando
pessoas em contato com novos tipos de vírus, pode-se desenvolver-se uma doença
desconhecida. O passo seguinte é localizar a moléstia quando surge, antes que
se espalhe. Em seu trabalho os pesquisadores estão reunindo sangue, saliva e
outras amostras de animais selvagens, a fim de criar um banco de espécies de
vírus. Assim, quando uma destas cepas de microorganismos infectarem seres
humanos, podem rapidamente ser identificados e combatidos. Além disso, os
cientistas estão desenvolvendo técnicas de gestão de florestas, animais
selvagens e gado, de modo a prevenir que doenças deixem a área florestal e se
transformem na próxima pandemia.
Os cientistas já identificaram vários casos de transmissão
de doenças de espécies selvagens para domesticadas, chegando aos humanos.
(Imagens: fotografias de Eliott Erwitt)
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