O
processo de decadência do Império Romano durou cerca de quatro séculos – do
século I ao V – e foi acompanhado de uma gradual desestruturação das
instituições. As cidades começaram a perder seus habitantes, que se mudavam
para os campos, longe das epidemias, das invasões dos bárbaros e onde havia
alimentos. Os ricos, igualmente, fugiam das cidades e se estabeleciam em suas
propriedades rurais, onde – baseados no trabalho de seus escravos – sobreviviam
e mantinham-se afastados das cidades.
Neste
período (entre os séculos III e X), a vida urbana na Europa sofreu um grande
retrocesso, o que também causou impacto sobre todas as atividades
caracteristicamente urbanas como a política, o comércio e a cultura. Aos
poucos, com a diminuição das atividades citadinas, os agrupamentos humanos
tornaram-se cada vez mais isolados, de maneira que somente as cidades mais
importantes (então bastante reduzidas de suas populações) mantinham contato
regular umas com as outras.
No
século IV o cristianismo já havia se tornado a religião oficial do império romano
e seguia se expandindo pela Gália Transalpina (atual França), Ibéria (Espanha e
Portugal) Germânia (Alemanha e Países Baixos) e Britânia (Inglaterra). O grande
núcleo difusor do cristianismo naquela época era a Irlanda. Mosteiros da
Irlanda mantinham relações diretas com a sede do catolicismo, Roma. Monges
irlandeses como São Patrício ajudaram no século V na cristianização de regiões
da Gália e da Britânia, de onde, por sua vez, saiam monges para cristianizar a
Germânia (com São Bonifácio, padroeiro da Alemanha). Aos poucos se estabelece
uma cadeia de mosteiros por toda a Europa Ocidental e Central, que serviria de
centro irradiador do catolicismo como centros de cultivo da cultura.
Com a
derrocada quase que completa de toda a atividade intelectual e cultural na
Europa, os mosteiros – principalmente os beneditinos – passaram a ser a sede do
conhecimento por muitos séculos. O índice de analfabetismo no início do período
medieval era altíssimo, haja vista o pouco valor do saber na sociedade em
geral. Os monges cristãos foram praticamente os únicos entre o século V e IX a
se dedicarem ao estudo, à produção de conhecimento e à sua conservação. O saber
e a cultura não tinham utilidade naquela sociedade.
Com a
criação do Sacro Império Romano Germânico por Carlos Magno (coroado no ano 800)
a estrutura imperial passa a ter uma demanda por funcionários com certos
conhecimentos a serem empregados na administração do Estado. Antevendo esta
demanda, Carlos Magno criou as escolas monacais. Estas escolas estavam
estabelecidas em mosteiros, onde era oferecido o ensino básico (trivium) da
época. Para alunos mais adiantados e talentosos era também ensinado o
quadrivium (aritmética, geometria, astronomia e música). As escolas monacais
foram aos poucos se separando dos mosteiros e tornaram-se autônomas.
No
século XII surgem as primeiras universidades, criadas com o apoio da Igreja
para transmitir o conhecimento de nível superior da época – focado
principalmente na medicina, no direito e na filosofia e teologia. A criação das
universidades começou em Salerno, na Itália, onde se estabeleceu a primeira
faculdade de medicina. Logo depois, em Bolonha, cria-se uma faculdade de
direito. No decorrer de poucas décadas, toda a Europa está repleta de
universidades, congregando um grande número de estudantes. A universidade de
Sorbonne em Paris, por exemplo, congregava mais estudantes no século XIII do
que no século XIX.
Outra
característica das universidades é que havia um grande fluxo de professores de
uma universidade para outra. São Tomás de Aquino, por exemplo, ensinou em
Colônia e Paris e Nápoles. Seu mestre, Alberto Magno, ensinou em Colônia,
Estrasburgo, Friburgo e Paris. Este fluxo de professores permitiu uma difusão e
nivelamento do conhecimento em toda a Europa, fato que trouxe várias outras
consequências para a cultura ocidental.
(Imagens: fotografias de Thomas Bak)
0 comments:
Postar um comentário