"Pode-se, então, compreender por que a fúria consumista prossegue. Doravante, o consumo funciona como doping ou como estímulo para a existência, às vezes, como paliativo, despiste em relação a tudo que não vai bem em nossa vida." - Gilles Lipovetsky - Metamorfoses da cultura liberal
A indústria química sempre foi considerada uma das grandes
causadoras da poluição ambiental. Pesquisas de opinião, realizadas em
diferentes países desde a década de 1970, apontam o setor químico como um dos grandes
vilões do meio ambiente. Vazamentos e explosões em unidades de produção mataram
mais de seis mil pessoas em todo o mundo, desde a década de 1950 – isso sem contar
os milhares de trabalhadores que tiveram algum tipo de sequela devido à exposição
prolongada aos componentes tóxicos nas indústrias.
Desde o início da década de 1980 a indústria química
mundial vem desenvolvendo e aplicando quesitos de segurança aos processos de
produção, transporte e armazenagem, chamados “resposible care” (atuação
responsável). Com estas providências reduziram-se bastante os riscos de
acidentes com produtos químicos, envolvendo danos a pessoas e ao meio ambiente.
Na área da movimentação de produtos, por exemplo, a ONU e as associações das
indústrias químicas dos diversos países criaram normas para o transporte de
produtos perigosos – tóxicos, explosivos, corrosivos, inflamáveis – aplicáveis
em todo o mundo, a todo tipo de transporte; rodoviário, aéreo, ferroviário,
fluvial e marítimo.
Ainda nos anos 1980, surgiu nos Estados Unidos um conceito
novo de química; a química verde. Segundo a União Internacional da Química Pura
Aplicada (IUPAC) a química verde é definida como: “a invenção, desenvolvimento
e aplicação de produtos e processos químicos para reduzir ou eliminar o uso e a
geração de substâncias perigosas”, ou seja, que sejam nocivas à saúde humana ou
ao meio ambiente. Trata-se, sem dúvida, de um grande passo no setor químico, já
que coloca como compromisso a gradual substituição de substâncias tóxicas por
outras com menos ou nenhuma periculosidade nos processos de formulação de
produtos. Ao longo dos anos foram estabelecidos doze princípios básicos que
balizam a química verde e que incluem conceitos como o da prevenção da geração
de resíduos e substâncias perigosas e o uso eficiente de matérias primas e
energia. É evidente, no entanto, que por ser uma atividade econômica como
qualquer outra, não é possível esperar que em poucos anos o setor se torne
completamente verde, utilizando em suas formulações – ou como resultado destas
– somente produtos inócuos, com pouco ou nenhum impacto ao meio ambiente ou à
saúde humana.
No entanto, a pressão de nova lei ambiental e a ação de ONGs
está ajudando com que a indústria química gradualmente reformule seus processos
e reduza a periculosidade de seus produtos. Os consumidores também estão
desempenhando um papel importante, deixando de comprar produtos convencionais e
substituindo-os por outros menos impactantes. Assim, o próprio mercado passa a
premiar empresas que atuam de maneira mais sustentável. Exemplo disso é a brasileira
Oxiteno, que em um terço de seus produtos utiliza ingredientes renováveis como
a canola, a mamona, o óleo de palma, a soja e o coco, além de desenvolver
solventes à base de cana-de-açúcar. Outro caso já bastante conhecido é o da
empresa Braskem, que fabrica o “plástico verde”, derivado do etanol da cana.
Os custos para muitos processos de produção verde ainda são
proibitivos. Mesmo assim, avançam as pesquisas em todo o mundo, inclusive o
Brasil. Com isso, a moderna química está ficando um pouco mais verde, reduzindo
seu impacto ambiental.
(Imagens: fotografias de René Burri)
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