"Na vida humana tudo é sofrimento
e não há trégua para nossas penas,
porém o que talvez seja melhor
que esta existência está envolto em trevas
e oculto nas nuvens."
Eurípides - Hipólito
A represa Billings tem reserva hídrica pouco superior ao
sistema Cantareira e já vem abastecendo parcialmente os municípios de Santo
André, São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires, Rio Grande da Serra e parte da
capital. Além disso, o reservatório também fornece água para geração de
eletricidade na usina Henry Borden, em Cubatão. Dada sua localização
estratégica a Billings teria possibilidades de melhorar o abastecimento de água
da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), não fosse a poluição de suas águas.
A represa Billings foi idealizada na década de 1940 pelo
engenheiro americano Asa White Kenney Billings (1876-1949), a serviço da
companhia Light & Power Company. O reservatório ficou pronto nos anos 1950,
com a principal função de fornecer água para o acionamento da usina hidrelétrica
Henry Borden, em Cubatão, gerando 889 megawatts. Para aumentar o volume da
Billings, a partir de 1952 o rio Pinheiros – localizado na zona Oeste/Sul de
São Paulo – começava a ser bombeado para o reservatório. O rio era contaminado
com efluentes domésticos e industriais que, sem tratamento, também eram
carreados para a represa. A resolução da constituição paulista de 1989,
determinando que o volume da Billings fosse prioritariamente utilizado para
abastecimento público, fez com que a partir de 1992 fosse suspenso o
bombeamento do rio para a represa.
Apesar de dispor de mais água do que o sistema Cantareira –
995 contra 982 bilhões de litros – os recursos hídricos da Billings continuam
sendo subutilizados, principalmente por causa da poluição causada por diversas
fontes. Um estudo da Universidade de São Paulo realizado em 2010 apontava que o
fundo do reservatório estava contaminado por metais pesados; como cobre,
chumbo, níquel e zinco, carregados para a Billings pelo rio Pinheiros ao longo
de anos de bombeamento. Obras de dragagem destes resíduos poderiam dissolvê-los
mais ainda e aumentar a turbidez da água. Outro aspecto é a poluição através de
esgotos, que em diversas áreas que margeiam a Billings – na zona Sul de São
Paulo e na região do ABCD – são lançados as água sem qualquer tipo de
tratamento, principalmente por loteamentos clandestinos.
As empresas de saneamento das prefeituras do ABCD planejam
tratar 100% dos efluentes domésticos até 2018, reduzindo assim o impacto sobre
a represa. Em São Paulo, no entanto, o problema ainda parece estar longe de uma
solução, já que as invasões às margens da represa tornam-se cada vez mais
comuns. Em alguns casos são centenas de famílias, que só podem ser desalojadas
com ajuda de força policial. As obras de construção do Rodoanel ainda trouxeram
mais invasões à região, aumentando os pontos de assoreamento, disposição de
lixo e despejo de efluentes.
Especialistas apontam que a principal providência para
recuperar a Billings é impedir que os resíduos ou efluentes cheguem às suas
águas. Para tanto, seriam necessárias obras de saneamento e urbanização no
entorno do reservatório, incluindo desalojar ocupações clandestinas e realocar
estas populações. Por seu tamanho, por receber chuvas e ventos que chegam do
oceano e por estar em grande parte ainda cercada por áreas verdes, a represa
ainda tem boas chances de se autodepurar ao longo dos anos. A recuperação deste
manancial é importante e urgente na estratégia de segurança hídrica do estado
de São Paulo.
(Imagens: fotografias de Oliver Wutscher)
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