O Ano Novo simboliza um novo início, novidade, novos propósitos; ou pelo menos retomada daquilo que não pudemos realizar e ainda consideramos importante. Essa expectativa positiva em relação ao futuro só ocorre porque acreditamos que as condições vão mudar para melhor, dando-nos a possibilidade de fazer aquilo que ainda não pudemos. Surgem com isso as “listas de propósitos para o novo ano”: parar de fumar, arranjar um novo emprego, começar aquele curso, voltar a fazer exercícios físicos. Planejamos mudar em algum aspecto a nossa vida, pois cremos que há uma nova chance para melhorias.
Esta expectativa positiva não ocorre só com indivíduos.
Empresas, sociedades e qualquer tipo de associação humana criam esperanças
sobre o futuro, fundadas ou não, principalmente quando começa um novo ano. No
caso do Brasil as circunstâncias agora são mais especiais ainda, já que junto
com a chegada de mais um ano também tem início um novo mandato presidencial. Teremos
novos ministros, novas políticas setoriais, novos planos de governo, novos
projetos, novas alianças políticas... O que efetivamente será novo e não apenas
“mais do mesmo”?
O país passa por mais uma crise econômica, com crescimento
do PIB em torno de 0%. A taxa de desemprego começa a subir e não se criam novas
vagas para trabalhadores melhor capacitados. Já foi autorizado o aumento do
preço da eletricidade, da água, da gasolina; voltará o imposto da CPMF e outros
tributos também deverão ser reajustados. A atividade industrial vem caindo e as
exportações de produtos agrícolas e minérios para a China, nosso maior cliente,
tendem a cair... Os recursos do governo são escassos para os anos 2015 e 2016, o
que impossibilita o início de novos projetos de infraestrutura – já será muito
se aqueles em andamento forem terminados.
As investigações do escândalo de corrupção na Petrobrás
estão apenas começando e deverão se estender por todo ano de 2015 e entrar em
2016. Dentro de alguns meses podem ter início as investigações sobre corrupção em
outros setores – setor elétrico, transportes, saneamento, entre outros – já que
as empreiteiras a atuarem na Petrobrás são as mesmas que ganham licitações destes
outros setores. As investigações, que com certeza mostrarão o envolvimento de
mais empresários e políticos, podem atrasar novos investimentos e as obras em
andamento, inclusive aquelas que tenham relação com o meio ambiente, como obras
de saneamento, construção de aterros, entre outros.
O setor privado, paralisado pela crise econômica e pela
queda do consumo não fará novos investimentos, pelo menos em curto prazo. Novas
obras como construção de fábricas, terminais e galpões industriais, envolvem
compra de equipamentos e serviços de meio ambiente. Caindo a quantidade destas
obras diminui a demanda por tecnologias ambientais, o que contribuirá ainda
mais para manter o setor retraído. Assim, tanto em vista da queda dos
investimentos públicos quanto do setor privado, o mercado ambiental deverá
acompanhar a economia e crescer muito pouco.
O quadro, não inspira otimismo. Ao invés de novidades para o
Ano Novo, teremos mais do mesmo; vamos passar por um ou dois anos arrumando a
casa e só então o país terá condições de efetivamente falar de novos projetos.
Enquanto isso, o meio ambiente se arruma como pode, já que como dizem, “quando
as contas estão no vermelho não se pensa no verde”.
(Imagens: fotografias de Robert Frank)
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