O Brasil é um dos países
onde mais se faz pesquisas de opinião, especialmente sobre assuntos
relacionados ao meio ambiente. Nossa diversidade social, geográfica e cultural dá
mais consistência às enquetes, apresentando
uma amostra de como pensa a população de uma nação de grande importância
ambiental. Afinal, boa parte da biodiversidade do planeta encontra-se em nossas
florestas, Cerrado, Caatinga, campos e águas territoriais.
A pesquisa de opinião identifica
a maneira como pensa a maior parte de uma população sobre determinado assunto.
Esta opinião tem importância para alguém - governos, empresas, grupos de
interesse - e deveria ajudar a direcionar ações futuras destes interessados;
caso contrário não encomendariam a investigação.
No caso das enquetes
relacionadas a temas ambientais, estas em geral confirmam expectativas, sem
necessariamente provocarem uma mudança nas condições. Com certa frequência, por
exemplo, são realizadas pesquisas sobre a "intenção de compra de produtos
sustentáveis, mesmo que mais caros". A maior parte das respostas
invariavelmente é positiva, ou seja, os consumidores estariam dispostos a
gastar mais, desde que os produtos fossem menos prejudiciais ao meio ambiente.
Em pesquisa realizada em 2012 pelo CNI (Conselho Nacional da Indústria) e IBOPE
(Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) este percentual era de
52% da população entrevistada. Outra enquete realizada em 2013 e aplicada pelo
mesmo IBOPE, revelou que "70% da população brasileira pagaria mais caro
para adquirir produtos que não causem grandes impactos na natureza".
Na prática, porém, tais
pesquisas não querem dizer nada. Porque, por um lado o consumidor efetivamente
não gastará mais dinheiro em produtos "amigos do meio ambiente", a
não ser em um ou outro caso. Por outro, os fabricantes não têm intenção de
investir em artigos mais caros e menos prejudiciais ao meio ambiente, reduzindo
suas margens de lucro - a não ser por imposição legal.
Recentemente o jornal Folha
de São Paulo publicou pesquisa realizada pelo Datafolha, informando que 95% da
população concorda que as mudanças climáticas estão afetando o país. Na
entrevista, 90% das pessoas disseram que a questão tem relação com a crise
hídrica e energética que está afetando o Brasil. A enquete identificou que o tópico
das mudanças climáticas não é claro para todos os entrevistados. Destes, 88% já
ouviram falar sobre o assunto, mas só 28% se consideravam bem informados. Mesmo
assim, 85% dos participantes na pesquisa disseram que a questão das mudanças
climáticas era motivo de preocupação para suas famílias e para o futuro do
planeta. Em um aspecto, porém, os entrevistados foram quase unânimes, ao dizer
que o governo pouco está fazendo para minorar o impacto do fenômeno no país.
Mostram tais pesquisas que
existem duas realidades: aquela dos dados coletados pelas enquetes e a outra, a
do dia a dia do país. Mesmo que boa parcela da população esteja animada a pagar
mais por produtos ambientalmente corretos, tais produtos raramente estão
disponíveis. E mesmo que tivessem, não fariam parte da cesta de compras do
brasileiro médio. No caso das mudanças climáticas a preocupação da população, apesar
de baseada em poucas informações, contrasta com a falta de estratégia de médio
e longo prazo por parte do governo.
(Imagens: pinturas de Victor Tischler)
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