"Os grandes sistemas, historicamente mobilizadores, entraram em falência. Depois do comunismo, é o capitalismo que passou a não mais produzir sentido e, mais que isso, valorizar o futuro. Este último não é mais definido como uma promessa, e sim como um perigo." Jean-Claude Guillebaud - A vida viva - Contra as novas dominações
Schopenhauer
começa sua obra com as definições para iniciar depois as discussões.
I Que se
entende por liberdade
Schopenhauer
considera o conceito de liberdade sob 3 aspectos: liberdade física, a liberdade
intelectual e a liberdade moral.
1º A
liberdade física consiste na ausência de qualquer obstáculo de ordem material.
Dizem que os homens ou animais são livres, quando nenhum impedimento físico ou
material constranja suas ações, podendo eles obedecer à própria vontade.
2º A
liberdade intelectual está mais próxima da liberdade física que a liberdade
moral
3º A
liberdade moral, equivalente ao livre arbítrio: o livre arbítrio é a potência
ou possibilidade de querer. No entanto o autor também coloca em discussão este
ponto, perguntando “e podes também querer o que queres?” (pág. 34). Por fim
chega ao conceito de que a liberdade é ausência de toda a necessidade.
Mas o
que é necessidade? O autor define como necessidade a consequência de uma razão
dada. Deste modo, o autor chega a definição de liberdade como aquilo que não é
necessário sob relação alguma, o que independe de toda razão suficiente. Em termos
humanos, isto indicaria uma vontade individual, que nas manifestações externas
não é determinada por nenhum motivo nem razões de qualquer espécie. Caso
contrário, a razão não seria mais livre, mas constrangida por necessidade. A
vontade livre não é determinada por nada.
II Que
se entende por consciência?
A
consciência é a percepção do “eu” em oposição aos objetos exteriores. O objeto
principal da consciência é a vontade – aqui entendida como relação com os
objetos do mundo exterior.
A
vontade diante da consciência
Schopenhauer
pergunta o que é querer qualquer coisa? A volição é produzida pela consciência
sob influência de algum objeto externo. O autor argumenta que a volição é
livre, de modo que ele (autor) “pode agir conforme (sua) vontade”. Mas
analisando o livre arbítrio, Schopenhauer diz que a questão é fazer as pessoas
compreenderem que não se trata de entenderem as consequências de suas vontades
(que, segundo uma análise superficial, “provariam” a liberdade da vontade), mas
sim, as razões e as causas de sua volição ou vontades. (Aqui, Freud, que
estudou Schopenhauer, deve ter encontrado uma base para desenvolver sua teoria
do inconsciente).
A
questão que Schopenhauer coloca é a “liberdade de vontade”. Existe esta
liberdade? Podemos realmente “querer o que queremos”?
A resposta que o autor dá a estas questões é que “a vontade do homem não é outra senão o seu eu propriamente dito, o verdadeiro núcleo do seu ser: e é ela (a vontade) que constitui o próprio fundo da consciência, como uma espécie de substractum imutável e sempre presente, do qual não consegue libertar-se para proceder de forma diversa” (este raciocínio também deve ter ajudado Freud a desenvolver sua teoria do inconsciente). Schopenhauer, em outra passagem, sintetiza este pensamento na seguinte frase: “Podes, em verdade, fazer o que queres; mas em cada determinado momento de tua existência não poder querer uma coisa precisa e uma só, com exclusão de qualquer outra” (pág. 59).
Vontade diante da percepção exterior
O princípio de causalidade nos é conhecido a priori, como regra geral a que estão submetidos todos os objetos reais do mundo exterior. Quando qualquer objeto sofre uma modificação, podemos corrigir-lhe as causas.
A lei da causalidade existe em 3 aspectos: 1) como causalidade em si, como se observa a natureza, nos processos físicos e químicos; 2) na forma de excitação, onde não existe uma proporção entre causa e efeito, ação e reação; e 3) a motivação, onde qualidades biológicas e não somente físico-químicas, também tem um papel preponderante.
As
noções de causa e efeito aplicam-se, segundo Schopenhauer, ao mundo inanimado,
regido pelas leis da física e da química e ao mundo animado, regido pelas
regras da biologia e do pensamento. O autor faz uma análise da noção de causa e
efeito no mundo animal, para por fim chegar às condições do mundo humano. Aqui,
Schopenhauer pretende provar, mais uma vez, a conclusão anterior, ou seja:
podemos fazer o que queremos, mas não podemos querer o que quisermos, já que
estamos condicionados por uma série de condições sobre as quais não temos
controle. O autor argumenta que o caráter do homem é invariável, permanece
durante toda a sua vida. Cita exemplos de comportamentos que no desenrolar da
vida não mudaram. Também argumenta que o caráter individual é inato, sendo
“obra da natureza” (hereditário).
Ao
longo do livro Schopenhauer cita vários exemplos e testemunhos que visam provar
que o homem não tem controle sobre sua vontade, já que esta é obra da natureza
e de condicionamentos havidos durante a vida do indivíduo.
Capítulo
quarto – condução e consideração mais elevada.
Schopenhauer
conclui dizendo que a liberdade não pode existir na ação, mas no ser e “é por
meio do que fazemos que reconhecemos a nós mesmos e aquilo que somos (pág.122).
Schopenhauer conclui que todo homem apenas faz o que deseja e, portanto, age
sempre de modo necessário.
(Imagens: pinturas de Edward Munch)
5 comments:
BOAS MATERIAS
Excelente resenha
Parabéns! Conseguiu resumir muito bem o livro.
Ok acho tenho uma divergência em relação a ação e liberdade citada no resumo do 4º capítulo, mais isso é só despareamento entre eu e o autor, do mais excelente resumo.
Excelente síntese, colocou muito bem, obrigado
Postar um comentário