"Suposto que o pensar dos pensadores se diferencia do conhecimento das 'ciências' e de toda espécie de conhecimento prático, segundo todas as perspectivas, então, a relação do pensar com o pensado é essencialmente diferente da relação do pensar 'técnico-prático' e 'moral-prático' usual com o que este pensa." Martin Heidegger, Parmênides
Todo ser vivo existe em
constante interação com seu ambiente. O elefante, o homem, as bactérias e o
vírus; todos têm seu habitat para sobreviver. Ao mesmo tempo em que está imerso
no meio em que vive, o ser vivo também é uma unidade independente do resto da
natureza. Fechado em si mesmo, cada indivíduo precisa gerar energia para
manter-se vivo, através da incorporação de alimentos. Perdida a capacidade de
subsistir e manter sua estrutura, o ser vivo se desfaz e volta incorporar-se ao
ambiente.
A influência do meio
ambiente sobre o indivíduo é tão grande que quase não é mais possível estudar
uma espécie abstraída de seu entorno. Assim cada ser vivo pode ser visto como
um nó de uma vastíssima teia de relações, onde cada parte influencia a outra.
Esta ideia é relativamente recente, foi criada na teoria dos sistemas, disciplina
que estuda de modo interdisciplinar a organização e interação de fenômenos,
incluindo seres vivos. Com o desenvolvimento da ecologia, da biologia molecular
e de outras ciências ligadas ao estudo do meio ambiente, este conceito da
interação entre ambiente e espécie tornou-se mais importante.
Por esse motivo são tão
complexos os Estudos de Impacto Ambiental e os Relatórios de Impacto ao Meio
Ambiente (EIA/RIMA), necessários para avaliar os efeitos de um projeto no local
onde será instalado. No entanto, mesmo contando com uma infinidade de
conhecimentos e equipamentos científicos, além de pesquisas feitas in loco,
ainda não é possível estabelecer definitivamente todos os impactos de uma
atividade. Efeitos microscópicos a longo prazo ainda são desconhecidos em
muitos casos, como por exemplo o uso de sementes geneticamente modificadas e
seu efeito sobre a flora do entorno.
Há muitos aspectos ainda
desconhecidos da natureza, que têm grande influência sobre os seres vivos. Nos
últimos anos a ciência descobriu que além das bactérias, os vírus também atuam
fortemente sobre a vida do planeta. Só para se ter uma ideia, em um litro de
água do mar vivem cerca de 10 bilhões de bactérias, acompanhadas de 100 bilhões
de vírus; todos no mesmo volume.
No passado, os cientistas admitiam que nosso
genoma (o conjunto de nossos genes) era basicamente determinante para nosso
desenvolvimento. Atualmente, no entanto, descobriram que existem três aspectos
adicionais, de grande impacto na maneira como nossos genes se comportam e
nossos corpos (e de todas as espécies vivas) se desenvolvem e funcionam: o
epigenoma (as substâncias que envolvem os genes); o microbioma (trilhões de
bactérias que habitam nossos corpos
células); e o viroma (trilhões de vírus que habitam essas mesmas
bactérias, nossas células e todas as partes do nosso corpo).
O viroma ainda é pouco
conhecido. Os biólogos Juan Enriquez e Steve Gullans em seu livro Evolving
Ourselves: How Unnatural Selection and Nonrandom Mutation are Changing Life on
Earth (Desenvolvendo-nos: como a seleção não natural e a mutação não
aleatória está mudando a vida na Terra), escrevem que "os vírus carregam,
trocam e modificam os genes entre as células ou de uma espécie para outra. Eles
dirigem a evolução em todas as escalas, nas bactérias, nas plantas, nos animais
e nos humanos." Os estudos sobre o papel dos vírus na evolução da vida
ainda estão no começo mas mostram, novamente, que a influência da natureza
sobre nós é muito mais abrangente do que imaginamos.
(Imagens: pinturas de Heinz Kistler)
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