O extremo sul da cidade de
São Paulo ainda dispõe de áreas verdes, constituídas por remanescentes da mata
atlântica, repletos de nascentes e corpos d'água. Formada pelos atuais
distritos de Parelheiros e Marsilac, a área viveu em relativo isolamento ao
longo da história da cidade. Esta situação só foi interrompida em 1829, com a vinda
de colonos alemães que por lá se estabeleceram. O núcleo deste povoamento é o
atual bairro de Colônia. Sempre foi grande o número de chácaras e sítios na
região, que com sua produção de hortaliças e produtos de granja abasteciam as cidades
de Santo Amaro e de São Paulo - Santo Amaro foi município independente até
1935.
A partir dos anos 1970 a
cidade de São Paulo começou a crescer fortemente em direção ao leste e ao sul,
regiões mais afastadas do centro e onde havia mais terra desocupada disponível.
Na região de Santo Amaro e Capela de Socorro formaram-se extensos bairros e tiveram
início as ocupações das margens das represas Guarapiranga e Billings. Ao longo
dos anos 1980 e 1990, com a crise habitacional por que passava o país, estas
ocupações clandestinas só aumentaram. O impacto ambiental deste processo era
diverso: derrubada da vegetação original, geralmente formada por mata
atlântica; formação de lixões clandestinos, já que o precário arruamento
impedia a entrada de caminhões de coleta; e poluição das águas dos
reservatórios, com a descarga de efluentes domésticos sem qualquer tratamento.
O poder público pouco fez para barrar ou organizar a ocupação destas áreas de
mananciais. As represas Guarapiranga e Billings são o maiores reservatórios da
região da grande São Paulo e poderiam ser melhor aproveitados - principalmente
a represa Billings - se suas água não estivessem contaminadas por tão grande
volume de efluentes e resíduos.
Nos últimos quinze anos o
processo de ocupação irregular começou a avançar ainda mais para o extremo sul
da cidade de São Paulo, alcançando Parelheiros e Marsilac. Áreas que até há
alguns anos eram propriedades agrícolas do cinturão verde da cidade, foram
transformadas em loteamentos. As ocupações clandestinas também avançam para
dentro do perímetro da APA (área de proteção ambiental) Bororé-Colônia, área de
mananciais localizada entre as represas Billings e Guarapiranga. O conhecido
desmatamento "formiga" - invasões, adensamento populacional e
pequenos desmatamentos - são comuns na região. Segundo reportagem publicada no
jornal O Estado de São Paulo, a situação é do conhecimento da Secretaria
Municipal do Verde e do Meio Ambiente, mas a fiscalização da região é quase
inexistente.
A região do extremo sul de
São Paulo, que engloba as APAs
Bororé-Colônia e Capivari-Monos ainda possui reservas florestais de mata
atlântica e por isso ainda tem grande quantidade de nascentes e córregos que
contribuem para alimentar as represas Guarapiranga e Billings. A floresta que
cobre a região tem influência na temperatura e no grau de umidade das regiões
circunvizinhas.
Em tempos em que as cidades em
todo o mundo procuram valorizar e ampliar suas áreas verdes, a prefeitura da
cidade de São Paulo tem obrigação de zelar para que a cobertura vegetal do
extremo sul não seja destruída. Sua supressão, além de destruir um bioma único,
poderia causar impactos climáticos não só em São Paulo, mas em municípios
limítrofes, como São Bernardo, Diadema, São Caetano e Santo André.
(Imagens: aquarelas de Ewald Christian Tergreve)
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