(Publicado em Ricardo Rose Consultoria - Newsletter setembro/outubro 2015)
Pouca coisa mudou na país
desde a nossa última newsletter
escrita em início de julho, pelo menos na política e na economia. O governo
continua sem rumo, já que persiste a rivalidade entre o Legislativo e o
Executivo. O presidente do Senado, Renan Calheiros, tentou se aproximar da
presidência ao esboçar um plano vago e pouco consistente, chamado de Agenda
Brasil. Aproximando-se do presidente do Senado o governo pretende isolar o
presidente da Câmara, o deputado Eduardo Cunha, citado como um dos beneficiados
pelo Petrolão. Nessa confusão toda, Dilma não tem o apoio da Câmara e não
dispõe mais dos trabalhos de coordenação política de Michel Temer, seu vice.
Além disso, existem setores dentro do PT e de suas forças de apoio - CUT, MST e
outros - que fazem oposição ao ajuste que está sendo implantado pelo ministro
da Fazenda Joaquim Levy. Um eventual impeachment
de Dilma, que vinha perdendo força nas últimas semanas, voltou a tomar
fôlego em setores políticos e empresariais. Para estes, um governo com menos de
7% de aprovação popular e com a pouca habilidade de articulação da presidente,
imporia ao país um sofrimento de três anos.
A economia continua rolando
escada abaixo. O índice de desemprego que no final de 2014 (quando a presidente
ainda desconhecia a crise) era de 4%, subiu para 8% em agosto. Os juros
permanecem altos, fazendo com que aumente cada vez mais o número de
inadimplentes. O setores da construção e da indústria continuam em queda de
atividade, mantendo dispensas e reduzido investimentos. Até o setor
agropecuário, sempre superavitário, teve um PIB 2,7% menor no primeiro semestre
de 2015. A implantação de ajustes pontuais, feitas do dia para a noite, não
melhorarão a situação. Soluções paliativas além de impopulares, como a criação
de novo impostos ou a ressurreição de antigos como a CPMF, só ajudarão no
momento. As verdadeiras reformas, estabelecendo linhas de ação para os diversos
setores da economia e criando o arcabouço legal e fiscal para que estas
estratégias possam ser implantadas ao longo dos próximos anos, não serão trabalhadas.
De um lado, por falta de interesse e capacidade por parte da maioria do
Congresso, e do outro por termos um governo fraco, com ministros ruins em sua
maioria e uma presidente que não tem capacidade de negociação e coordenação.
Na área ambiental as
notícias são menos desalentadoras. Se a Política Nacional de Resíduos Sólidos
não avança - e vai avançar cada vez menos com a falta de recursos nas
prefeituras e estados - e o saneamento recebe sempre menos verbas de um PAC
muito combalido, a COP 21 parece ser uma luz no fim do túnel. O encontro da ONU
para discutir as mudanças do clima e a redução de emissões, a ser realizado em
dezembro em Paris, está forçando os países a tomar posições, inclusive o
Brasil. Foi em função do tema das mudanças climáticas, que a presidente Dilma
assumiu o compromisso de aumentar os investimentos em energias renováveis e
reduzir o uso das poluentes termelétricas, durante seu encontro com o
presidente Obama. Além disso, prometeu reduzir gradualmente o desflorestamento,
de modo a chegar em 2030 com índices próximos a zero.
Em agosto o Brasil também
recebeu a visita da chanceler alemã Angela Merkel, disposta a discutir também
temas relacionados às energias renováveis e a diminuição do desmatamento na
Amazônia. Para isso, trouxe recursos de 32 milhões de Euros (cerca de R$ 128
milhões), para financiar programas ambientais e sociais que ajudem a diminuir o
corte de árvores; fato ainda responsável por cerca de 60% da emissões de gases
provocadas pelo Brasil. O Ministério do Meio Ambiente anunciou também a criação
da Secretaria Especial de Florestas, órgão que deverá fomentar a aplicação do
Código Florestal, manter e restaurar a floresta, com a criação e utilização de tecnologias
que gerem empregos com melhores níveis de remuneração na região.
O que se espera é que tudo
não seja mais um jogo de cena, para "sair bem na fita" durante a
COP-21 em Paris. Oxalá que nessa total ausência de estratégias, pelo menos a
preservação das florestas - e a consequente redução de emissões -, seja o plano
que será seguido pelo Ministério do Meio Ambiente. Esperar um maior número de
iniciativas efetivamente implantadas, seria panglossiano demais, dadas as
atuais circunstâncias do país.
(Imagens: pintura de Franz Marc)
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