"Enquanto nos gabinetes de Brasília decisões sobre o controle dos agrotóxicos são postergadas, ingredientes químicos proibidos no exterior são pulverizados sobre os vegetais nas lavouras do país." - Jornal Folha de São Paulo de 4/10/2015
No prefácio, Paulo Freire declara que se
preocupa em não tomar uma posição dogmática em relação à realidade política e à
prática pedagógica. Fala da importância da ação política, do aprendizado
através da constante curiosidade. Nestes tempos pós-modernos, a educação é
prática indispensável aos seres humanos, inseridos no contexto da história. O
objetivo de Freire é provocar uma compreensão crítica da história e da
educação.
Educação permanente e as cidades educativas
Novamente neste artigo, Freire aborda a
questão da educação como um processo permanente na vida. Neste contexto, o
pensamento pós-moderno rompe com todas as verdades dogmáticas da pedagogia e
“se funda numa prática educativa crescentemente desocultoradora de verdades.
Verdade cuja ocultação interessa às classes dominantes da sociedade” (pags.17 e
18). 17 e 18). O processo educacional é uma constante na vida do homem. Por se
saber finito e inconcluso, o ser humano tem em si o impulso para entender e
aprender. A Cidade educativa no fundo “somos nós e nós somos a Cidade”
(pag.23). 23), com nossos sonhos de uma política voltada para o bem da
comunidade, através da educação. Mas o conceito passa também pelos edifícios
públicos, a maneira como a Cidade é tratada pelos governantes, a superação dos
preconceitos, da fome e o fomento da tolerância.
Educação de adultos hoje
O conceito de educação de adultos
transformou-se atualmente em educação popular, incorporando a alfabetização e a
profissionalização. Todavia, é preciso que o conteúdo daquilo que vai se
ensinar tenha a ver com a cotidianidade dos diversos tipos de alunos. Por outro
lado, os educadores descobriram que a educação de adultos também é processo
permanente de refletir a militância. A Educação Popular deve ser a facilitadora
da compreensão científica que grupos e movimentos podem e devem ter acerca de
suas experiências. Fator importante da Educação Popular é a leitura crítica do
mundo. No fim do texto, Freire afirma: “é possível vida sem sonho, mas não
existência humana e História sem sonho” (pag.30). 30).
Anotações sobre unidade na diversidade
Neste texto, Freire constata que existem a)
diferenças de classe, raça, gênero e de nações; b) essas diferenças geram
ideologias, de um lado discriminatórias, de outro de resistência; c) é
impossível compreender as diferenças sem analisar as ideologias e a relação
destas com o poder e a fraqueza; e d) é impossível de pensar em uma forma de
superação da opressão, da discriminação e da passividade sem uma compreensão
crítica da História e seus projetos político-pedagógicos.
Uma interpretação histórica que visa manter a
situação, o status-quo inalterado é o que enxerga o futuro como pré-dado, como
destino. No entanto, a História, segundo Freire, é tempo de possibilidades e
não de determinação. Pensar a História como possibilidade é pensar a educação
também como possibilidade.
Qualidade e educação
A partir do título de um evento, “Educação e
qualidade”, Freire desenvolve três outros temas: educação para qualidade,
qualidade da educação e educação e qualidade de vida. Freire parte do
pressuposto de que não existe educação apolítica, descompromissada, neutra. Ao
afirmar isto, os educadores devem explicar aos seus educandos que existem
outras posições políticas e visões de mundo que não as suas e que os educandos
podem e devem ter seus próprios sonhos, diferentes daqueles dos educadores.
Nesta situação os educadores devem Ter uma posição ética e democrática, a fim
de poder defender o direito de que seus educandos divirjam deles. Da mesma
forma, a educação não é neutra, nem a valoração que se dá a ela.
Não importa em que tipo de qualidade se fale
na educação, aquela é sempre uma questão de política, demandando uma decisão de
materializá-la.
Alfabetização como elemento de formação da cidadania
A própria alfabetização já é um ato político,
porém sempre de atuação limitada. Freire compara o processo de educação nas
diversas fases da história brasileira: do fim dos anos cinqüenta ao começo dos
anos sessenta e o período militar. A prática é diferente a as experiências não
podem ser transplantadas – podem ser reinventadas.
Freire fala das diferenças de classes, suas
características e a função do educador como contribuinte no processo de
esclarecimento das classes mais exploradas. Cita o caso onde uma educadora
interferiu favoravelmente, ajudando o desenvolvimento de uma menina
marginalizada. Freire comenta que a escola, apesar de servir basicamente aos
interesses das classes dominantes, tem como tarefa revelar as contradições do
mundo as classes oprimidas, apontando possibilidades de superação da situação,
através da ação de educadores conscientes.
Freire também menciona diversos educadores
que tiveram contato com a cultura popular em diversas situações, e revela a
dificuldade destes em adaptar-se à cultura popular, já que estavam imbuídos de
conceitos teóricos.
Do direito de criticar – do dever de não
mentir ao criticar
Pode-se criticar, mas não usar a mentira para
reforçar nossa crítica. Da mesma maneira, é preciso aprendera aceitar críticas
honestas e saber que atuando no mundo estamos sujeitos a críticas. Geralmente,
em qualquer crítica que fazemos, devemos conhecer o assunto que criticamos.
O educador deve Ter muito cuidado ao proferir
suas críticas na presença dos educandos, de modo a não influenciá-los
negativamente.
Educação e participação comunitária
A prática educativa é uma prática social,
histórica e condicionada por diversos fatos. Todavia, dada sua evolução
biológica e social, o homem é uma espécie “programada para aprender”. A
educação implica: a) a presença do educador e do educando; b) objetivos; e c)
métodos, processos, técnicas de ensino, materiais didáticos.
A educação deve ser organizada de tal modo a
possibilitar com que os grupos populares efetivamente obtenham acesso à
educação. Para alcançar este estado é necessário fomentar a participação
popular através de mecanismos políticos.
Ninguém nasce feito: é experimentando-nos no
mundo que nós nos fazemos
Paulo Freire conta neste artigo sua
trajetória pessoal. Desde sua infância de menino de classe média em Recife, na
década de 20 (do século XX), sua convivência com colegas pobres, seus estudos e
leituras, até sua primeira aula como professor. Relembra sua atuação no SESI
(Serviços Social da Indústria) à frente de diversos projetos que lhe
proporcionaram muito aprendizado. Revela como desenvolveu o “método Paulo
Freire”, que é, na realidade, “a compreensão dialética da educação, vivamente
preocupada com o processo de conhecer, em que educadores e educandos devem
assumir o papel crítico de sujeitos cognoscentes”. 86). Depois Freire narra sua prática como
coordenador do Programa Nacional de Alfabetização, abolido pelo golpe de 1964.
Depois disso, o exílio e as viagens e palestras, durante 16 anos.
Educação e responsabilidade
Em qualquer ambiente de trabalho precisamos
ter nossos direitos respeitados, bem como cumprir nossos deveres. A educação
deve levar responsabilidade, ultrapassando o antagonismo ainda hoje existente
entre educação libertadora e responsável e a prática educadora autoritária,
antidemocrática e domesticadora. A educação tem como tarefa principal a prática
libertadora e progressista, todavia sempre direcionada pela ética que “vem das
entranhas mesmas do fenômeno humano, da natureza humana, constituindo-se
História, como vocação para o ser mais”.
Escola pública e educação popular
A principal questão colocada neste artigo é
se é possível fazer educação popular na rede pública ou, colocado de outra forma,
afirmativa: e educação popular pode realizar-se apenas no espaço informal na
prática político-pedagógica fora da escola, nos movimentos populares.
Toda a prática educativa está sujeita a
limitações: ideológicas, epistemológicas, políticas econômicas e culturais.
Todavia, a tarefa dos educadores é a desocultação das verdades, ou seja,
apresentar as verdades e a distorção de fatos que trabalham a favor dos
interesses dominantes. Por outro lado, os grupos dominantes não assistirão
passivos a denúncia de seus estratagemas de poder, e exercerão uma pressão
sobre os educadores conscientes.
Tanto a direita quanto a esquerda
conservadora não tem interesse em promover o avanço educacional das classes
populares. Muitos setores da esquerda preferem influenciar o povo através de
propaganda política, ao invés do conhecimento, capacitando-o a analisar a
realidade.
Em seguida, Freire conta um pouco de sua
experiência como Secretário da Educação, em São Paulo, durante a administração
da prefeita Luiza Erundina (1989-1992). Durante sua administração Freire
procurou implantar um sistema de ensino mais democrático, voltado as
necessidades da massa do povo.
Universidade católica – reflexões em torno de
suas tarefas
Freire discorre sobre a diferença que há
entre um teólogo conservador e um teólogo progressista (à época ainda se falava
em “teologia da libertação”). O teólogo progressista, não importa se vivendo no
Nordeste ou em Boston, teria visão parecida. Da mesma forma o teólogo
conservador teria a mesma visão, não importando onde vivesse. A diferença
básica entre as duas visões é a maneira diferente de enxergar o ser humano,
criando uma dicotomia entre “espiritualidade” e “mundanidade”.
Um dos principais atributos da universidade
católica, segundo Paulo Freire, é a afirmação da tolerância, em todos os
sentidos. Esta tolerância deve-se concretizar nas pesquisas, na docência, nas
relações entre os diversos departamentos. Em suma, a universidade católica deve
ser aberta a diferentes ideologias, religiões (ou até à ausência desta), à
ciência, ao progresso da tecnologia e outros. A universidade deve preservar a
liberdade dos educadores na sua prática docente.
(Imagens: pinturas de Lee Eggstein)
2 comments:
Há um espírito freiriano nesse contexto...
Postar um comentário