"Os piores males que a humanidade já teve de suportar foram infligidos por maus governos." - Ludwig von Mises
Depois de quase quatro anos, volto a escrever esta coluna do meu blog. Naquela época, em fevereiro de 2013, os tempos ainda eram diferentes. Apesar do aumento da inflação, a economia ainda estava embalada com juros e desemprego baixos e perspectivas de crescimento positivo (2,3%) ao final do ano. Pipocavam casos de corrupção e em junho daquele ano começariam as primeiras manifestações contra o governo Dilma.
Depois de quase quatro anos, volto a escrever esta coluna do meu blog. Naquela época, em fevereiro de 2013, os tempos ainda eram diferentes. Apesar do aumento da inflação, a economia ainda estava embalada com juros e desemprego baixos e perspectivas de crescimento positivo (2,3%) ao final do ano. Pipocavam casos de corrupção e em junho daquele ano começariam as primeiras manifestações contra o governo Dilma.
No entanto o quadro geral do país, em seus aspectos econômicos e
sociais, ainda era relativamente o mesmo desde quando FHC havia assumido.
Embalada pela estabilidade econômica, a economia havia crescido e incluído
milhões de novos consumidores, principalmente nos dois governos Lula. Nunca
tantos haviam consumido tanto neste país; produtos e serviços antes exclusivos
da classe média, agora passavam a fazer parte do dia a dia das classes C, D e
E.
Por alguns poucos anos, tivemos um exponencial aumento da prosperidade.
Programas sociais, aumento do crédito, melhoria do acesso à educação superior,
o programa Minha Casa Minha Vida, etc.. Tudo contribuía para criar um clima de
otimismo e de percepção de progresso social e econômico. O mercado interno -
leia-se consumo - crescia rapidamente, assim como as exportações de produtos
agrícolas e minérios. Em clima de entusiasmo, o governo Lula lançava o PAC, o
Plano de Aceleração do Crescimento, para melhorar a infraestrutura em face das
novas demandas.
O resto da história é recente e fácil de lembrar. As reformas fiscal,
trabalhista, previdenciária e política, entre as principais, ficaram só na
intenção e promessa. Legislativo e Executivo quase nada fizeram para preparar o
país para novas etapas de crescimento. Assim, um Estado que gastava cada vez
mais, a desaceleração da economia chinesa, a diminuição do crédito reduzindo
consequentemente o consumo e fazendo crescer o desemprego, acabaram derrubando
os índices econômicos. A corrupção, cujo caso mais emblemático foi o esquema
montado na Petrobrás, investigado pela operação Lava Jato, também deu sua
contribuição para acentuar a crise econômica, transformada também em crise
social.
O impedimento da presidente Dilma é a principal consequência política de
todo esse processo. Reformas que deveriam ter sido feitas naquela fase do
desenvolvimento do país não foram realizadas. Mesmo porque, iriam ferir muitos
interesses. Dos políticos profissionais, que já formaram verdadeiras dinastias
e que monopolizam a atividade política de suas regiões de origem. De
empresários, cujos negócios cresceram sob a proteção do governo e à custa da
livre concorrência; muitos deles nacionais e multinacionais formando
verdadeiros oligopólios. De associações e sindicatos importantes, cujos membros
ocuparam e ocupam cargos na administração pública e com isso defendem
interesses de categorias - isso quando não estão a serviço dos empresários,
como muitas vezes aconteceu na história do peleguismo brasileiro.
Por cima de tudo isso paira a eterna doutrinação do povo brasileiro. Na
escola, na mídia, nos serviços públicos e em diversas instituições, martela-se
constantemente a ideologia de que o Estado é o regulador, provedor e o juiz de
tudo. A coisa funciona da seguinte maneira: 1) O país existe em função do
Estado (este declara, evidentemente, que atua em benefício do cidadão); 2) O
cidadão contribui (com altíssimos impostos) para que o Estado possa desempenhar
sua função de regulador (Legislativo), provedor (Executivo) e juiz
(Judiciário). Isto, no entanto não acontece. Os serviços entregues pelo Estado
- seja em que nível for - não existem ou são ruins.
Desta forma, de uma maneira bastante genérica, podemos dizer que uma
elite (citada acima) se apossa do Estado e utiliza seus instrumentos em benefício
próprio. O financiamento de toda esta imensa máquina ocorre principalmente com
o trabalho, o consumo e os impostos pagos por milhões de cidadãos, que em
grande parte pouco se beneficiam desta estrutura, já que os serviços públicos -
saúde, educação, segurança, transportes, lazer, cultura, etc. - não funcionam
devidamente.
Outro aspecto é a burocratização, o autoritarismo, a ineficiência de
toda estrutura montada por este Estado. Para qualquer iniciativa oficial são
necessários documentos com firmas reconhecidas, declarações, acompanhamento de
advogados, autorizações de juízes e de sindicatos, registros em cartórios,
carimbos e recolhimento de guias junto a órgãos públicos, bancos oficiais,
etc., etc., etc. Uma prática retrógrada, sustentada por um Estado e uma
estrutura pública que no fundo ainda é autoritária, não confia no cidadão, e
que o tutela. Nas mínimas coisas o Estado exige providências do cidadão, mas a
contrapartida não ocorre.
O nacional desenvolvimentismo, presente na ideologia de muitas figuras
do governo - à esquerda e à direita, sob o argumento do patriotismo - sempre
beneficiou grupos econômicos, sem trazer o benefício de produtos e serviços
mais eficientes e baratos. O excessivo controle do Estado em todas as
atividades, além dos tributos e das taxações, produz uma burocracia lenta e
muitas vezes corrupta, além de propiciar o aparecimento da figuras dos
"facilitadores" - profissionais e empresas com ligações com esta
mesma burocracia - cujo trabalho é exatamente "contornar" o excessivo
controle estatal. "Criar dificuldades para vender facilidades" é o
lema destes "provedores de soluções", característicos de economias
fiscalmente obtusas. A situação, evidentemente, beneficia grupos e empresas com
mais recursos, cujas ações muitas vezes resvalam na corrupção.
Estamos em um momento propício para mudanças neste sentido. O Estado
precisa se limitar a desempenhar bem a sua função; oferecer bons serviços de
educação, saúde, segurança, justiça e gestão pública, entre outros, e deixar as
outras atividades para o cidadão. Coordenar mas não dirigir a economia,
deixando amplo espaço para a concorrência, sem privilegiar grupos econômicos,
seja sob que argumento for. A tutela estatal, dado o baixo desenvolvimento
social e econômico do Brasil, foi necessária até certo ponto de nossa história.
Hoje, até para poder alocar recursos em outras áreas, é preciso que o Estado
seja menos interventor e burocrático e se preocupe mais em controlar as
atividades econômicas - coisa que até agora as agências controladoras fizeram
muito mal. Quando vamos aprender a encarar os problemas do país de uma maneira mais prática, ao invés de ainda nos prendermos a rótulos do século XX, como por exemplo a divisão "esquerda e direita"?
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